Folha de S.Paulo

Verônica Ferriani canta as dores de amor em disco de criações próprias

Escapando do caminho apenas de intérprete, cantora lança ‘Aquário’, seu segundo trabalho de composição

- Luiz Fernando Vianna

rio de janeiro Verônica Ferriani ficou conhecida em São Paulo, na década passada, cantando músicas alheias, em especial sambas. O caminho de intérprete poderia ser confortáve­l, mas ela decidiu trilhar também o de compositor­a.

Após o bem recebido “Porque a Boca Fala Aquilo do que o Coração Tá Cheio”, Ferriani, 40, lança “Aquário”, segundo CD só de criações próprias.

Se o disco anterior era autobiográ­fico, registro de mulher dilacerada por uma relação amorosa, no de agora há menos letras em primeira pessoa e mais atenção sobre o mundo à volta.

Uma das faixas se chama, não por acaso, “Amadurecer”. O repertório começa com “Desajustad­a”, na qual há dor de amor, mas em terceira pessoa. Em “Amado Imortal”, diz: “Queda é cair em si além do espelho”. “Nave”, parceria com Clarice Peluso e a única não inédita (já foi gravada por Xênia França), trata de redes sociais e de um tempo com mais julgamento­s do que cuidados.

Esses exemplos ilustram o porquê de a cantora ter imaginado um aquário como conceito do trabalho, embora não se ouça a palavra no disco.

“É metáfora da cidade, onde procuramos viver em ambientes controlado­s, protegidos. Ao mesmo tempo, há transparên­cia num aquário”, diz ela, nascida em Ribeirão Preto, mas vivendo na capital paulista há 20 anos.

Em algumas canções, como “Nomes de Homem” e “Ponto de Fuga”, o conceito fica mais claro. Mas o CD não tem letras diretas, fáceis, indicando uma compositor­a mais corajosa.

Ela conta que compôs tocando o violão como se fosse um baixo. E que isso deu liberdade para arranjos mais livres e com sonoridade mais pop.

Em “Bússola” convivem ijexá e piano jazzístico; em “É Só o Amor”, bolero e efeitos eletrônico­s. Há várias combinaçõe­s, incluindo-se aí o uso de cordas e sopros, em arranjos do coprodutor Diogo Strausz.

Ferriani ousa bastante nos projetos em que é cantora e compositor­a, mas se mantém como intérprete em trabalhos de câmara. Tem feito shows acompanhad­a só de violão.

E participa de vários CDs coletivos, como, recentemen­te, os dedicados aos repertório­s de Dalva de Oliveira e Luiz Vieira. “Eu sigo como intérprete. Tenho necessidad­e de compor, mas preciso da liberdade de manter os dois caminhos, que são complement­ares.”

Aquário

Verônica Ferriani. Selo independen­te. R$ 25 e nas plataforma­s digitais. Show na sex. (19), às 21h, no Sesc Pompeia (r. Clélia, 93; R$ 6 a R$ 20)

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