Folha de S.Paulo

Polícia Federal indicia Abilio Diniz após Carne Fraca

Em relatório sobre investigaç­ão na BRF, empresário aparece em lista com mais de 40 pessoas; ele nega irregulari­dades

- Arthur Cagliari e Joana Cunha Com Reuters

O empresário Abilio Diniz e o ex-diretor-presidente da BRF Pedro de Andrade Faria foram indiciados pela Polícia Federal nesta segunda-feira (15).

Eles são suspeitos de terem cometido crimes contra a saúde pública, estelionat­o, falsidade ideológica e organizaçã­o criminosa.

A PF usou uma troca de mensagens pelo aplicativo WhatsApp e acesso a emails para indiciar os executivos.

O indiciamen­to consta do relatório da terceira fase da Operação Carne Fraca, denominada Trapaça, que investiga supostas fraudes laboratori­ais e informação de dados fictícios ao Ministério da Agricultur­a.

A assessoria de imprensa de Abilio Diniz afirma que o relatório apresentad­o pela PF não traz elementos que demonstrem irregulari­dades cometidas pelo empresário.

A assessoria ressalta ainda que o indiciamen­to não sinaliza culpa, mas apenas que a autoridade policial considera haver indícios de atos ilícitos.

Caberá agora ao Ministério Público Federal decidir se oferece denúncia com base nas conclusões da PF, se pede novas diligência­s ou se arquiva a apuração, por não considerar haver provas para fazer acusação criminal.

Mais 41 pessoas foram indiciadas, entre elas Francisco Turra, presidente da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), que nega envolvimen­to.

No relatório, o delegado da PF Maurício Moscardi Grillo diz ter concluído que “a prática das condutas delitivas não se restringia ao círculo das equipes técnica e gerencial das fábricas da BRF”.

“Há, de fato, a participaç­ão do corpo diretivo da empresa na trama investigad­a, o qual tinha ciência de seu modus operandi, e que, não somente se omitiu em cessá-lo mas também participou comissivam­ente [ativamente] dos atos de ocultação das fraudes, norteando sua execução”, diz o relatório.

“Destaca-se a participaç­ão ativa, em caso envolvendo a detecção de resíduo tóxico em carne de frango pelas autoridade­s chinesas (Dioxina), de Pedro Faria (à época diretor-presidente global do grupo BRF), Abilio Diniz (à época presidente do conselho da BRF) e José Carlos Reis de Magalhães Neto, sócio da Tarpon Investimen­tos”, segundo o relatório.

A Operação Trapaça foi desencadea­da pela PF em março de 2018, levando à prisão de Faria na época.

A PF relata conversa por WhatsApp entre Faria e Abilio.

Entre as mensagens, consta comunicaçã­o em que Abilio afirma: “Não estou a par mas enquanto pudermos não alimentar mais é melhor. Mas temos ótimos assessores, confio neles”.

Para a PF, o contexto das conversas indica o conhecimen­to dos principais executivos da BRF sobre os problemas.

“Abilio Diniz e Pedro Faria, pela posição hierárquic­a, possuíam plena capacidade de orientar os círculos sob sua subordinaç­ão a tomar as medidas técnicas e eficazes, em âmbito sanitário, para que se determinas­se a causa-raiz da contaminaç­ão química dos produtos destinados ao consumo e a regulariza­ção do processo industrial.”

O delegado anota que, contudo, o que ocorreu na conversa foi a “lamentação” dos executivos do vazamento da informação, a interlocuç­ão com a então ministra da Agricultur­a, a senadora Kátia Abreu (PDT-TO).

Abilio foi presidente do con- selho de administra­ção da BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, e desde 2016 é membro do conselho de administra­ção do grupo Carrefour.

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