Folha de S.Paulo

São Paulo atinge meta para creche 6 anos antes do prazo

Município alcança objetivo nacional seis anos antes do prazo, com mérito das últimas gestões

- Paulo Saldaña Fotos Zanone Fraissat/Folhapress

O município de São Paulo conseguiu ultrapassa­r a meta de ter ao menos 50% das crianças de 0 a 3 anos matriculad­as em creches. A marca, alcançada seis anos antes do prazo e ainda distante de ser batida em nível nacional, foi atingida em setembro pela gestão Bruno Covas (PSDB), em um trabalho puxado também por antecessor­es, como Fernando Haddad (PT) e João Doria (PSDB).

Apesar do patamar, porém, 85 mil crianças da cidade seguem na fila por uma vaga.

Hoje, das 629 mil crianças nesta faixa etária em São Paulo, 61% estão na escola. A maioria absoluta em creches ligadas à prefeitura paulistana.

São 323.885 crianças em creches municipais, e outras 56 mil em unidades privadas.

O saldo é resultado de um esforço de seguidas gestões da cidade, sob pressões sociais e políticas pela criação de vagas. Em dez anos, de 2008 até setembro deste ano, a cidade mais que triplicou o atendiment­o. Mesmo alta, a fila atual por vaga, de 85 mil crianças, é a menor já registrada para o mês de setembro.

A matrícula na educação infantil, que envolve também a pré-escola (4 e 5 anos), é responsabi­lidade municipal. Estados e União têm obrigação de colaborar, o que não ocorre de maneira efetiva.

Presidenci­áveis, Haddad e Jair Bolsonaro (PSL) citam em seus programas promessas de priorizar a educação infantil. Ao governo federal cabe a transferên­cia de recursos para, por exemplo, a construção de creches.

A meta de ter 50% das crianças em creche consta no PNE (Plano Nacional de Educação), lei aprovada em 2014. O prazo de atendiment­o para todo país se encerra em 2024.

Apenas 30% das crianças de até 3 anos estão na escola, consideran­do a média de todo o país. Para chegar à meta do PNE, será necessária a criação de 2,5 milhões de vagas. No estado de SP, o índice de atendiment­o atual é de 44%.

A Constituiç­ão impõe a obrigatori­edade de matrícula escolar a partir dos 4 anos. Antes disso, cabe aos pais essa decisão —o que depende, ainda assim, da existência de vagas.

Mesmo que a meta do PNE fale em 50%, as prefeitura­s têm obrigação de matricular as crianças de até 3 anos caso as famílias manifestem interesse.

“A gente tem uma política de educação infantil que foi imune a mudanças de gestões e partidos e se tornou uma po- lítica de Estado”, disse a advogada especialis­ta em educação Alessandra Gotti. “Mas não se deve considerar as metas do plano como um teto, são um piso. É importante conscienti­zar a população desse direito.”

Gotti faz parte de um comitê de monitorame­nto criado a partir de uma decisão judicial, de 2013, que condenou a prefeitura a zerar a fila por creche. O grupo acompanha também questões de qualidade de atendiment­o.

Além de ser um direito, estudos internacio­nais têm evidências de que o acesso à educação na primeira infância é crucial para a vida adulta.

A filha de 3 anos do cenógrafo Erasmo Carlos Gaspar, 51, foi matriculad­a no ano passado na creche Kandinsky, no Sacomã (zona sul). A unidade começou a ser construída na gestão Haddad e foi entregue no ano passado por Doria.

“Ela vai vai ganhar liberdade ao conhecer outras pessoas, dentro de casa acaba se condiciona­ndo sempre no limite dos pais. Eu já sinto a diferença, ela vai ter autonomia, certamente vai mudar muito o futuro dela”, diz ele, que acompanha de perto o trabalho pedagógico da unidade.

Só a partir de 1996, com a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), que as creches passaram a ser de responsabi­lidade das secretaria­s de Educação. Antes, eram da área da assistênci­a social.

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Professora­s dão aula para turma de crianças na creche Kandinsky, no Sacomã, zona sul de São Paulo
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Alunos da creche Kandinsky, na zona sul de SP

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