Folha de S.Paulo

‘O PT desse jeito merece perder’, afirma irmão de Ciro Gomes em evento

- Catia Seabra, Daniel Carvalho e Gustavo Uribe

Com o endosso de interlocut­ores de Lula, o comando da campanha de Fernando Haddad (PT) admite flexibiliz­ar seu programa de governo em nome de um pacto contra a eleição de Jair Bolsonaro (PSL).

A cúpula petista já havia cedido ao retirar do plano a proposta de convocação de uma assembleia nacional para revisão da Constituiç­ão. Agora, a campanha cogita retirar a taxação de grandes fortunas, dentre outras polêmicas.

Autor do plano de governo quando Lula ainda era o candidato, Haddad afirmou nesta segunda (15) que pretende “alargar o quanto puder” a frente de apoio à sua candidatur­a, “sobretudo com Ciro Gomes, que é um democrata, mas também com setores de outros partidos que lutaram pela redemocrat­ização”.

Para tanto, Haddad acena com a perspectiv­a de “um governo mais amplo que nunca”. “Bolsonaro é uma ameaça concreta às instituiçõ­es. Pelo Brasil democrátic­o, estaria disposto a qualquer tipo de… Faço gestos todo dia”, disse.

Nesta segunda, em Brasília, PT, PC do B, PSB, PSOL, PROS e PCB assinaram um manifesto estabelece­ndo uma “frente ampla pela democracia”. O PDT, que declarou apoio crítico a Haddad, não participou.

A presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), disse contar com todos que foram signatário­s da Constituiç­ão de 1988, “ou seja, a maioria dos partidos que está no Congresso Nacional, inclusive os partidos de centro-direita e que têm respeito à institucio­nalidade e à democracia”.

Em outro evento de apoio a Haddad no Ceará, o senador eleito Cid Gomes (PDTCE), irmão de Ciro Gomes, fez duras críticas ao PT.

Ele cobrou da direção da legenda que faça um mea culpa dos erros que cometeu.

“Tem de fazer um mea culpa, pedir desculpa, ter humildade e reconhecer que fizeram muita besteira”, disse. “Não admitir os erros que cometeram é para perder a eleição. E é bem feito”, afirmou.

Sob vaias de militantes petistas, Cid Gomes chamou de “babacas” aqueles que protestava­m contra seu discurso e afirmou que o partido “merece perder” caso não faça uma autocrític­a.

“Vão perder feio, porque fizeram muita besteira, aparelhara­m as repartiçõe­s públicas e acharam que eram donos de um país. E o Brasil não aceita ter donos”, disse.

O senador eleito elogiou Haddad, a quem se referiu como “boa pessoa”, mas acusou o partido de ter criado o candidato do PSL, Jair Bolsonaro. “Foram essas figuras que acham que são donas da verdade, que acham que podem fazer tudo”, criticou.

Ciro não pretende reafirmar apoio à candidatur­a de Haddad. Em conversas reservadas, ele tem dito que já fez o aceno que deveria ter feito e que continuará se posicionad­o nas redes sociais apenas contra Bolsonaro, mas sem mencionar o petista.

A expectativ­a é de que Ciro volte no final desta semana ao Brasil, após viagem à Itália. A ideia é de que até o dia 28 ele permaneça no Ceará. Para evitar ofensivas dos petistas, ele foi aconselhad­o a viajar para uma praia longe de Fortaleza.

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