Folha de S.Paulo

O samba atravessou

- Alvaro Costa e Silva

Eduardo Paes esperava uma eleição a governador em ritmo de desfile da Portela, daqueles que os especialis­tas definem como “tecnicamen­te perfeito”, além de empolgante. No fim apoteótico, o ex-prefeito faria uma evolução na avenida, chapéu de malandro na cabeça e sapato bicolor nos pés, mandando beijos para o povo em êxtase nas arquibanca­das.

Mas o samba atravessou. Outro candidato invadiu a pista, um adversário até então desconheci­do que começara a disputa com apenas 1% das intenções de voto. Um ex-juiz federal cujo sobrenome —Witzel— seus próprios eleitores têm dificuldad­e em pronunciar. Na campanha oficial, é só Wilson. Surfando na onda do jogo pesado da direita e com apoio de algumas igrejas evangélica­s, ele liderou o primeiro turno com 41,28% dos votos válidos.

O enredo de Paes é confuso. Obrigado a trocar de partido, sua imagem ainda está fortemente ligada ao antigo PMDB, cujas administra­ções e tramoias faliram o Estado. Também é difícil de esquecer sua estreita relação com o ex-presidente Lula, da qual ficaram telefonema­s gravados que são, no mínimo, incômodos em um cenário tão antipetist­a como o atual. Sem falar na investigaç­ão em curso que envolve o candidato do DEM no recebiment­o de propina em grandes obras realizadas na capital.

Aos poucos, Witzel (PSC) tem se revelado com maior clareza. Recebia auxílio-moradia, mas tinha imóvel próprio. Seu salário ultrapassa­va o teto constituci­onal e, dando risada, aparece numa gravação ensinando aos colegas como tornar legais pendurical­hos e gambiarras. Ameaçou dar voz de prisão a Paes durante um debate. A obsessão pela pauta do crime o fez prometer que a Polícia Militar não terá supervisão civil. Seu gesto favorito é bater continênci­a. Até para o guarda da esquina.

De bom mesmo só a saída de Pezão, que entra para a história como um dos piores governador­es do Rio. Aguardemos o próximo.

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