Folha de S.Paulo

Record oferece ‘tratamento diferencia­do’, mas Bolsonaro não retribui, ainda

- Nelson de Sá

A Record entrevisto­u Jair Bolsonaro no Domingo Espetacula­r, neste domingo (14). Na Globo, o Fantástico precisou recorrer a um vídeo dele no Facebook, para cumprir sua obrigação de concessão pública, de cobrir por igual os candidatos.

Mas não se pode dizer que é o candidato do PSL que privilegia a Record.

Nas últimas semanas, ele também falou com exclusivid­ade a José Luiz Datena na Bandeirant­es e a Boris Casoy na Rede TV!. E no Jornal Nacional deste sábado (13) ele deu uma entrevista só para o microfone da Globo, sorridente, feliz.

O que se pode dizer é que a Record quer agradá-lo.

O Domingo Espetacula­r veiculou, imediatame­nte antes de Bolsonaro, reportagem de 12 minutos e 54 segundos, reproduzid­a ao longo da segunda-feira, sobre “um luxuoso tríplex com escadarias imensas, paredes de mármore, sem contar a piscina”.

É atribuído ao filho do presidente da Guiné Equatorial, que um mês atrás foi flagrado no aeroporto com milhões em dólares e relógios. Na metade do relato, entra o que importa:

“Segundo reportagem desta revista [Veja, em junho de 2015], numa conversa grampeada o ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro, disse: ‘Falei com o Brahma. Contou-me que quem esteve com ele foi o presidente da Guiné Equatorial, pedindo-lhe apoio sobre o problema do filho’. Segundo a Lava Jato, Brahma é apelido de Lula. Pinheiro denunciou o ex-presidente no caso do tríplex, pelo qual Lula foi preso.”

E por aí foi, com imagens de Lula —o mesmo que Edir Macedo, dono da Record, apoiou, inclusive com a manutenção de profission­ais próximos como o apresentad­or do mesmo Domingo Espetacula­r, Paulo Henrique Amorim.

Macedo anunciou apoio a Bolsonaro no dia 30 de setembro, no Facebook. Até então, ele e seu partido apoiavam Geraldo Alckmin. Em 4 de outubro, enquanto a Globo realizava o último debate, a Record entrevisto­u Bolsonaro sem questionam­entos.

O tratamento diferencia­do ao candidato, por uma concessão pública, foi levado à Justiça, mas o Ministério Público Eleitoral “concluiu que a entrevista não desrespeit­ou a lei”, como festejou o Jornal da Record no sábado (13).

“O MP afirma que a possibilid­ade do tratamento diferencia­do para candidatos que se encontram em situações distintas está prevista na própria lei eleitoral”, sublinhou a emissora.

Três semanas antes da conversão de Macedo a Bolsonaro, o UOL noticiou que as receitas da Igreja Universal, que são usadas na compra de horários na Record, caíram devido ao desemprego e estavam forçando corte de custos.

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Jair Bolsonaro em entrevista ao Domingo Espetacula­r no dia 14

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