Folha de S.Paulo

Atritos de petista e bispo vêm de liberação de templo

- Artur Rodrigues Reprodução

- O apoio de Edir Macedo à candidatur­a de Jair Bolsonaro (PSL) reacendeu uma tensão entre o religioso e o presidenci­ável petista Fernando Haddad que remonta à liberação do Templo de Salomão, na capital paulista.

A gestão do ex-prefeito (2013-2016) chegou a cogitar até a possibilid­ade de demolir o espaço religioso, contrarian­do o próprio PT.

Nos últimos dias, Haddad atacou Macedo associando-o ao “fundamenta­lismo charlatão” e disse que ele tem “fome de dinheiro”. A Igreja Universal rebateu as críticas ao seu líder afirmando que as declaraçõe­s do petista são “preconceit­uosas” e acusa Haddad de “incitar uma guerra religiosa”.

Nos quatro anos de Haddad como prefeito, o Templo de Salomão foi motivo de discórdia com a igreja de Macedo, então aliado do PT. Maior que a Basílica de Aparecida, o grandioso templo era a grande prioridade da Universal.

Quando o petista assumiu, o templo já estava em estágio avançado, depois de polêmico processo de aprovação formalizad­o em 2006. Para conseguir a liberação, a igreja apresentou pedido de reforma do prédio na área onde hoje funciona o templo, mas o edifício em questão havia sido demolido dois anos antes —o certo seria o uso de alvará de construção, não de reforma.

A liberação do projeto ocorreu após decisões do ex-diretor do departamen­to que autorizava construçõe­s Hussain Aref Saab. Após reportagem da Folha, ele seria acusado de comandar esquema de corrupção na aprovação de obras. Outro problema era a área ter sido construída em zona reservada a moradia social —por isso, a prefeitura exigia uma contrapart­ida.

O Ministério Público entrou no assunto e ameaçou pedir a demolição do templo, medida que chegou a ser cogitada dentro da prefeitura.

Haddad era pressionad­o por petistas a colocar panos quentes no assunto. Sobrinho de Macedo, o atual prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB), era ministro da Pesca do governo da presidente Dilma Rousseff (PT).

O templo foi inaugurado em 2014, com a presença de Dilma e seu então vice, Michel Temer (MDB), o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o próprio Haddad, mesmo sem o aval dos bombeiros.

O templo passou a funcionar com alvará para eventos, que deveria ser renovado a cada seis meses, mantendo a ameaça sobre a menina dos olhos de Macedo.

Em artigo na revista Piauí, Haddad relatou “estresse” gerado pela situação: “A lei mandava demolir e esse argumento foi usado pela minha gestão para propor uma modalidade de acordo de leniência, aprovado por lei. A forma encontrada para indenizar a cidade previa a doação de um terreno com as mesmas dimensões e na mesma região”.

No último ano da gestão Haddad, a igreja se compromete­u a doar um terreno avaliado em R$ 38 milhões para a construção de moradia. A gestão Bruno Covas (PSDB) diz que “tem mantido contato com a Igreja Universal para efetivar a doação do terreno”.

Quando Haddad concorria a prefeito em 2012, Macedo, que apoiava o candidato Celso Russomanno (PRB), publicou em seu blog texto de autor não identifica­do que dizia que se o petista fosse eleito estaria “livre para infestar as escolas municipais com seu kit gay”. Na época em que Haddad era ministro, também teria sido frustrado um plano da igreja de criar uma universida­de.

Em setembro, Macedo anunciou o apoio a Bolsonaro. Depois, a Record, emissora do bispo, exibiu entrevista com Bolsonaro no mesmo dia em que os demais candidatos à Presidênci­a participav­am de debate na TV Globo.

A Universal nega atrito com Haddad por causa do templo e diz que tratativas seguiram lei. A igreja afirma que houve assinatura de compromiss­o com a cidade de doação de terreno, com obrigações de ambas as partes. “As obrigações vêm

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