Folha de S.Paulo

Tucano apoia França e diz que Doria é traidor

Prefeito de Santos e aliado de Geraldo Alckmin, Paulo Alexandre Barbosa diz que seu partido precisa se reinventar

- Thais Bilenky

Aliado do candidato tucano derrotado à Presidênci­a, Geraldo Alckmin, o prefeito de Santos (SP), Paulo Alexandre Barbosa (PSDB), declarou em entrevista à Folha apoio à candidatur­a de Márcio França (PSB) ao governo de São Paulo.

O tucano afirmou que seu correligio­nário João Doria não representa os ideais do partido e é movido por oportunism­o eleitoral.

A candidatur­a de Doria não é consensual no PSDB. Qual é a sua posição?

Minha posição é de preservar os valores da social-democracia. O PSDB em que eu acredito é o do Montoro, Covas, Alckmin. Um partido com compromiss­o com o interesse público predominan­te, que não é suscetível a projetos pessoais de poder.

Existe necessidad­e de avanços em SP, mas não é correto deixar de defender o legado do PSDB no estado por 24 anos. Márcio tem defendido de forma clara. Por isso e pela lealdade a Alckmin, não no discurso, mas na prática, ele terá meu apoio no segundo turno. Ele vai estar com a cabeça focada em São Paulo nos próximos quatro anos. Doria está em uma ofensiva para tomar conta do partido com uma caça aos infiéis. Inclusive sugeriu a sua expulsão. Estou com a consciênci­a tranquila, porque a minha vida pública sempre foi coerente. Fui candidato a prefeito em uma cidade que o PSDB nunca tinha administra­do, cumpri meu mandato e fui reeleito com votação recorde.

Tenho a consciênci­a do dever cumprido. Ao contrário do candidato do PSDB, que foi escolhido nas prévias com a expectativ­a de ter um prefeito por quatro anos e houve uma traição aos filiados que o escolheram.

Depois, eu diria que houve uma traição ao grande responsáve­l pela escolha do João Doria, que foi justamente o Geraldo. Traiu seu padrinho político.

Quando Doria tentou ser candidato a presidente?

Sem dúvida alguma. Eu não renuncio

às minhas convicções. Eleição a gente ganha e a gente perde. Os princípios e valores a gente tem ou não tem. Quando João Doria me procurou com 90 dias de mandato na prefeitura para se apresentar como opção como candidato à Presidênci­a, isso obviamente me afasta.

Ele falou abertament­e? Na presença de outros colegas. Manifestou que teria mais viabilidad­e eleitoral que o candidato que foi determinan­te na sua eleição passados 90 dias. Esse tipo de atitude não me representa. Então eu fui claro, olhando no olho dele. Disse que não havia hipótese de ter o meu apoio.

Mas a maior traição foi ao povo de São Paulo, aos milhões de pessoas que escolheram um prefeito para quatro anos e que ficou pouco mais de um. Sendo o critério para expulsão a traição, João Doria é o primeiro da fila. Quem deve

ser expulso é ele.

No primeiro turno, ele flertou com Bolsonaro. Foram sinais claros. Abandonou o legado do PSDB e o candidato do PSDB à Presidênci­a. O movimento Bolsodoria é oportunist­a.

Caberão o sr., Alckmin e outros no mesmo PSDB que Doria?

A urna mandou um recado claro que vai exigir uma reinvenção das estruturas partidária­s, não é exclusivo ao PSDB. Se nessa reinvenção o PSDB estiver próximo daquilo em que acredito, estarei nele. Se não, não terei dificuldad­e nenhuma de sair.

SeDoriagan­har,osr.sai? Meu posicionam­ento não tem nada a ver com a disputa eleitoral. Tem a ver com as minhas convicções. Hoje a candidatur­a que está se apresentan­do não reflete aquilo que eu penso, por isso estou distante. Não compactuo.

Sua decisão pode ser seguida por outros tucanos? Não tenho dúvidas de que outras pessoas tenham o mesmo sentimento e vão ter a oportunida­de de se manifestar. Estou falando por mim. A coerência é fundamenta­l.

[Doria] demoniza o Márcio como representa­ndo o PT. Em 2014, ele foi protagonis­ta na chapa que elegeu o PSDB ao governo de São Paulo como vice de Alckmin. Em 2016, ele coordenou a campanha de Doria para a prefeitura pelo PSDB.

Ou seja, em 2014 e 2016, ele não era socialista nem petista. Agora em 2018, passou a vestir esse figurino? Isso é muita contradiçã­o e oportunism­o eleitoral. É querer enganar a população. O PSB foi um bom aliado, é importante e legítimo que tenha candidatur­a. Esse é um dos erros do PSDB, achar que é soberano.

Qual é o futuro político de Alckmin?

A política é muito dinâmica. Quando ele perdeu a eleição para prefeito em 2008, ouvi muita gente especuland­o que a carreira dele estava encerrada. Foi governador de São Paulo com votações expressiva­s. Geraldo é quem tem toda a condição e reputação moral para liderar o processo de transforma­ção do PSDB e da política nacional. É um homem verdadeiro.

Ainda pode disputar eleição?

Óbvio. Ninguém tem mais legitimida­de do que ele. A qual cargo, Geraldo não faz política pensando em eleição.

Caso se eleja, o sr. aposta que Doria vai governar já pensando na próxima eleição?

Já fez isso. E vai repetir, é da postura. Precisamos de um governador que pense no estado. Márcio vai ter esse foco, tem demonstrad­o capacidade de unir. O flá-flu, nós contra eles, não acrescenta em nada.

“Eu não renuncio às minhas convicções. Eleição a gente ganha e a gente perde. Os princípios e valores a gente tem ou não tem. Quando João Doria me procurou com 90 dias de mandato na prefeitura para se apresentar como opção como candidato à Presidênci­a, isso obviamente me afasta Paulo Alexandre Barbosa (PSDB) prefeito de Santos

 ??  ?? Paulo Alexandre Barbosa, 39 Eleito prefeito de Santos (SP) em 2012 e reeleito em 2016, é filho do exprefeito Paulo Gomes Barbosa (1980-84).Formado em direito, foi deputado estadual (2007-10), secretário de Desenvolvi­mento Social (2011) e de Desenvolvi­mento Econômico, Ciência e Tecnologia (2011-12)
Paulo Alexandre Barbosa, 39 Eleito prefeito de Santos (SP) em 2012 e reeleito em 2016, é filho do exprefeito Paulo Gomes Barbosa (1980-84).Formado em direito, foi deputado estadual (2007-10), secretário de Desenvolvi­mento Social (2011) e de Desenvolvi­mento Econômico, Ciência e Tecnologia (2011-12)

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