Bandeira de ato na Paulista evoca racistas dos EUA
Uma bandeira verde-grama com um estranho símbolo em preto foi vista durante manifestação em São Paulo no domingo. Trata-se de um estandarte fictício, que representa um país que tampouco existe: o Kekistão. Usada por manifestantes na avenida Paulista, foi criada a partir de uma espécie de religião satírica originada no universo de videogames e que acabou sendo apropriada por organizações ultranacionalistas e racistas nos EUA.
Kek, no ideário da extrema direita, é a divindade de uma pseudorreligião cuja origem e ideias circulam por fóruns online de discussão de jogos como World of Warcraft.
Em algum momento, descobriu-se que Kek era também o nome de um deus egípcio antropomórfico que poderia assumir forma de homem ou mulher. Na forma feminina, era representado, com cabeça de sapo ou gato. Na masculina, empregada no período greco-romano, era reproduzido com cabeça de sapo.
A divindade era responsável pelo caos e pela escuridão, o que se adequava à autoimagem da extrema direita americana como dedicada a destruir a ordem existente.
Os devotos de Kek criaram uma mitologia cultural em torno da ideia, com um reino chamado Kekistão e que era, com o tempo, subjugado por adversários. A bandeira do Kekistão tem ao centro uma insígnia com 4 Ks em torno de uma letra E. É uma imitação da bandeira nazista alemã com alusão à suástica.
O significado obscuro e pouco compreensível de Kek a pessoas comuns —chamadas de “normies” pelos membros do grupo— é uma forma de indicar aos participantes de conversas online que todos compartilham os princípios centrais ao pensamento da extrema direita americana.
O personagem criado fica numa área pouco delineada entre sátira, ironia, deboche e ideologia. Kek, ao mesmo tempo em que pode ser uma grande piada contra liberais, emerge como autoimagem da extrema direita como agente do caos na sociedade.
Em protestos de grupos organizados racistas nos EUA, manifestantes apareceram empunhando a bandeira do imaginário Kekistão.
Para os seguidores de Kek, o presidente americano, Donald Trump, deveria à divindade seu sucesso.