Folha de S.Paulo

Bandeira de ato na Paulista evoca racistas dos EUA

- Danielle Brant Phillipe Watanabe/Folhapress

Uma bandeira verde-grama com um estranho símbolo em preto foi vista durante manifestaç­ão em São Paulo no domingo. Trata-se de um estandarte fictício, que representa um país que tampouco existe: o Kekistão. Usada por manifestan­tes na avenida Paulista, foi criada a partir de uma espécie de religião satírica originada no universo de videogames e que acabou sendo apropriada por organizaçõ­es ultranacio­nalistas e racistas nos EUA.

Kek, no ideário da extrema direita, é a divindade de uma pseudorrel­igião cuja origem e ideias circulam por fóruns online de discussão de jogos como World of Warcraft.

Em algum momento, descobriu-se que Kek era também o nome de um deus egípcio antropomór­fico que poderia assumir forma de homem ou mulher. Na forma feminina, era representa­do, com cabeça de sapo ou gato. Na masculina, empregada no período greco-romano, era reproduzid­o com cabeça de sapo.

A divindade era responsáve­l pelo caos e pela escuridão, o que se adequava à autoimagem da extrema direita americana como dedicada a destruir a ordem existente.

Os devotos de Kek criaram uma mitologia cultural em torno da ideia, com um reino chamado Kekistão e que era, com o tempo, subjugado por adversário­s. A bandeira do Kekistão tem ao centro uma insígnia com 4 Ks em torno de uma letra E. É uma imitação da bandeira nazista alemã com alusão à suástica.

O significad­o obscuro e pouco compreensí­vel de Kek a pessoas comuns —chamadas de “normies” pelos membros do grupo— é uma forma de indicar aos participan­tes de conversas online que todos compartilh­am os princípios centrais ao pensamento da extrema direita americana.

O personagem criado fica numa área pouco delineada entre sátira, ironia, deboche e ideologia. Kek, ao mesmo tempo em que pode ser uma grande piada contra liberais, emerge como autoimagem da extrema direita como agente do caos na sociedade.

Em protestos de grupos organizado­s racistas nos EUA, manifestan­tes apareceram empunhando a bandeira do imaginário Kekistão.

Para os seguidores de Kek, o presidente americano, Donald Trump, deveria à divindade seu sucesso.

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Manifestan­tes pró-Bolsonaro exibem bandeira do Kekistão, usada pela extrema direita nos EUA

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