Folha de S.Paulo

Juízes do STJ desistem de viagem a Portugal bancada por empresas

- Frederico Vasconcelo­s José Cruz/Agência Brasil Reprodução

Principais conferenci­stas brasileiro­s de um seminário em Portugal, os ministros Humberto Martins e Nancy Andrighi, do Superior Tribunal de Justiça, tiveram seus nomes retirados do programa às vésperas do evento iniciado nesta segunda (15).

A desistênci­a foi confirmada após a Folha questionar despesas da viagem, que seriam pagas por escritório­s de advocacia e empresas privadas.

Martins e Andrighi abririam os trabalhos do 1º Congresso Luso-Brasileiro do Direito de Insolvênci­a, na Faculdade de Direito da Universida­de de Lisboa, entre os dias 15 e 17.

O congresso é promovido pelo Ibajud (Instituto Brasileiro de Administra­ção Judicial), associação civil de direito privado que se apresenta como organizaçã­o sem fins lucrativos. Ela é mantida por escritório­s de advocacia, leiloeiros judiciais, pecuarista­s, empresas do agronegóci­o, administra­dores judiciais e firmas de recuperaçã­o de créditos.

Martins desculpou-se pela ausência, citando compromiss­os na Corregedor­ia Nacional de Justiça durante a semana.

Já Andrighi deu 24 horas ao Ibajud para retirar seu nome da programaçã­o. No mesmo dia, foram apagadas as fotos dos dois ministros no site. A ministra viu uso indevido de seu nome porque avisara em agosto que não iria ao evento.

Quem a convidou foi a juíza Anglizey Solivan Oliveira, da Vara de Falências em Cuiabá (MT), uma das coordenado­ras acadêmicas do Ibajud. No convite, ela informou que a ministra poderia “optar pela melhor data para sua viagem, companhia aérea, classe e acompanhan­te”. O CNJ não veda pagamento de passagens e hospedagem para magistrado­s conferenci­stas.

“Não concordo com essas viagens internacio­nais, especialme­nte durante o período em que devemos estar trabalhand­o”, afirmou a ex-corregedor­a Andrighi à Folha.

No ano passado, o Ibajud levou o ministro do STF Alexandre de Moraes e o juiz Newton de Lucca, do TRF-3, para dar palestras em curso de recuperaçã­o judicial em San Diego, na Califórnia (EUA).

Diante das ausências, o congresso de Lisboa será aberto com exposição de Henrique Ávila, do Conselho Nacional de Justiça, indicado em 2017 pelo Senado —ele informou que “não receberá passagens ou diárias do CNJ” e que participar­á como palestrant­e.

A atuação do Ibajud divide opiniões no Judiciário. O instituto forma novos administra­dores judiciais, que substituír­am os antigos síndicos de massa falida. Mantém programas de reciclagem com universida­des no exterior e se dispõe a contribuir para agilizar a recuperaçã­o de empresas num país com poucas varas especializ­adas em falências.

Alguns magistrado­s, contudo, veem o risco de uma reserva de mercado. Certificad­os do Ibajud, instituiçã­o privada, facilitari­am a nomeação de administra­dores judiciais pelos juízes estaduais. Os mais críticos questionam eventual tráfico de influência e lobby.

“O Ibajud não oferece nenhum retorno de lobby aos seus patrocinad­ores. Todos os nossos patrocínio­s chegam voluntaria­mente por empresas e profission­ais inseridos no ambiente da recuperaçã­o judicial do Brasil”, diz a advogada e empreended­ora Rosely Cruz, fundadora do instituto.

Ela diz que o Ibajud “não recebe nem administra nenhum recurso público, não promove qualquer relação comercial, não advoga, não produz encontros de interesses nem conduz processos de recuperaçã­o judicial ou de falência”.

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A ministra Nancy Andrighi, do STJ
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O ministro Humberto Martins, do STJ

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