Militares de Mianmar atacaram minoria em rede
Eles posavam como fãs de estrelas pop e heróis nacionais enquanto enchiam páginas do Facebook com ódio. Um deles disse que o islamismo era uma ameaça global ao budismo. Outro compartilhou notícia falsa sobre o estupro de uma budista por muçulmano.
As postagens eram de militares de Mianmar, que transformaram a rede social em uma ferramenta de limpeza étnica, segundo ex-oficiais, pesquisadores e autoridades.
Os militares de Mianmar foram os principais atores por trás de campanha que começou há mais de uma década e que visava a minoria étnica rohingya, de muçulmanos.
Os militares exploraram o alcance do Facebook em Mianmar, onde é tão utilizado que muitos dos 18 milhões de usuários de internet confundem a rede com a própria web.
Grupos de direitos humanos culpam a propaganda contra os rohingyas por incitar assassinatos, estupros e a maior migração humana forçada da história recente.
O Facebook fechou as contas oficiais de líderes militares em Mianmar em agosto, mas a extensão da campanha —que se escondia com nomes falsos e contas fraudulentas— passou despercebida. A campanha, descrita por cinco pessoas que pediram para não ser identificadas porque temiam por sua segurança, incluiu centenas de militares que criaram contas falsas e páginas e então as inundaram com comentários e postagens.
O Facebook confirmou detalhes sobre a campanha. Na segunda-feira (15), depois de perguntas do The New York Times, a empresa fechou contas supostamente sobre entretenimento, mas que estavam ligadas aos militares, com 1,3 milhão de seguidores.
Em agosto, a companhia admitiu que demorou para agir em Mianmar. Mais de 700 mil rohingyas já tinham fugido do país em um ano, no que a ONU chamou de “um exemplo elementar de limpeza étnica”.
O comitê de informação sobre os militares de Mianmar não respondeu a pedidos de comentários.
A operação começou com páginas que pareciam ser de notícias e outras dedicadas a estrelas pop, modelos e celebridades, como uma miss que repetia propaganda militar.
Esses se tornaram canais de distribuição para fotos obscenas, notícias falsas e postagens inflamatórias, muitas vezes visando muçulmanos. Contas falsas disseminavam conteúdo, calavam os críticos e alimentavam discussões entre comentaristas. Elas postavam fotos falsificadas de cadáveres que diziam ser prova de massacres cometidos pelos rohingyas.