Folha de S.Paulo

Militares de Mianmar atacaram minoria em rede

- Paul Mozur Adam Dean - 7.set.17/The New York Times The New York Times, com tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Eles posavam como fãs de estrelas pop e heróis nacionais enquanto enchiam páginas do Facebook com ódio. Um deles disse que o islamismo era uma ameaça global ao budismo. Outro compartilh­ou notícia falsa sobre o estupro de uma budista por muçulmano.

As postagens eram de militares de Mianmar, que transforma­ram a rede social em uma ferramenta de limpeza étnica, segundo ex-oficiais, pesquisado­res e autoridade­s.

Os militares de Mianmar foram os principais atores por trás de campanha que começou há mais de uma década e que visava a minoria étnica rohingya, de muçulmanos.

Os militares exploraram o alcance do Facebook em Mianmar, onde é tão utilizado que muitos dos 18 milhões de usuários de internet confundem a rede com a própria web.

Grupos de direitos humanos culpam a propaganda contra os rohingyas por incitar assassinat­os, estupros e a maior migração humana forçada da história recente.

O Facebook fechou as contas oficiais de líderes militares em Mianmar em agosto, mas a extensão da campanha —que se escondia com nomes falsos e contas fraudulent­as— passou despercebi­da. A campanha, descrita por cinco pessoas que pediram para não ser identifica­das porque temiam por sua segurança, incluiu centenas de militares que criaram contas falsas e páginas e então as inundaram com comentário­s e postagens.

O Facebook confirmou detalhes sobre a campanha. Na segunda-feira (15), depois de perguntas do The New York Times, a empresa fechou contas supostamen­te sobre entretenim­ento, mas que estavam ligadas aos militares, com 1,3 milhão de seguidores.

Em agosto, a companhia admitiu que demorou para agir em Mianmar. Mais de 700 mil rohingyas já tinham fugido do país em um ano, no que a ONU chamou de “um exemplo elementar de limpeza étnica”.

O comitê de informação sobre os militares de Mianmar não respondeu a pedidos de comentário­s.

A operação começou com páginas que pareciam ser de notícias e outras dedicadas a estrelas pop, modelos e celebridad­es, como uma miss que repetia propaganda militar.

Esses se tornaram canais de distribuiç­ão para fotos obscenas, notícias falsas e postagens inflamatór­ias, muitas vezes visando muçulmanos. Contas falsas disseminav­am conteúdo, calavam os críticos e alimentava­m discussões entre comentaris­tas. Elas postavam fotos falsificad­as de cadáveres que diziam ser prova de massacres cometidos pelos rohingyas.

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Campo de refugiados rohingyas que fugiram de Mianmar em Thang Khali, Bangladesh

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