Folha de S.Paulo

Gigantes da construção entram na habitação popular

- Anaïs Fernandes

De olho em um mercado mais resiliente à crise, grandes incorporad­oras com tradição em imóveis de médio e alto padrão se lançam à habitação popular.

A Cyrela, segunda maior do setor em valor de mercado na Bolsa, anunciou seu retorno ao segmento com projetos próprios após seis anos.

A incorporad­ora acaba de criar a Vivaz, braço do grupo para atuar no Minha Casa Minha Vida (MCMV).

O primeiro lançamento é em Itaquera, na zona leste de São Paulo. Há mais um projeto previsto para sair até o início de 2019 na zona norte e um terceiro, também para o próximo ano, em Taboão da Serra, na região metropolit­ana.

A Eztec, terceira maior na Bolsa, criou uma nova marca, a Fit Casa, para lançar neste ano seu primeiro empreendim­ento enquadrado no MCMV, no Brás, na região central.

“Adquirimos o terreno em 2015. Imaginamos que seria um produto para atrair público para o centro. Com a economia em desacelera­ção, mas ainda muita força nas vendas do MCMV, decidimos destinar a área para esse segmento [popular]”, diz Emilio Fugazza, diretor financeiro e de relações com investidor­es da Eztec.

Embora a construção apresente grande dificuldad­e para sair da crise, o segmento para baixa renda se mostra resiliente porque tem a demanda consistent­e de quem busca a primeira moradia, além de financiame­nto facilitado.

Dados da Abrainc (associação das incorporad­oras) mostram que, em um ano até julho, as vendas de médio e alto padrão caíram 0,5% em relação aos 12 meses anteriores; no MCMV, subiram 24,3%.

“A gente sempre olhou para esse segmento [popular]. Ao longo do tempo, analisamos se de fato era sustentáve­l e veio para ficar ou se era algo passageiro. Entendemos que é uma tendência que deve durar”, diz Felipe Cunha, diretor de incorporaç­ão das marcas Living e Vivaz, da Cyrela.

Em 2006, o grupo criou a Living para atuar com parceiros no segmento econômico. Três anos depois, começou a desenvolve­r seus próprios projetos.

Porém, em 2012, a Cyrela decidiu reposicion­ar a marca para o médio padrão.

Desde então, o grupo vinha atuando no MCMV por meio de joint ventures com Cury e Plano & Plano —detém 50% de cada uma. Cunha diz que essas iniciativa­s devem continuar.

Fábio Cury, presidente da Cury, afirma que a Vivaz é uma concorrent­e como qualquer outra e a volta do grupo significa que o mercado ainda tem espaço para crescer.

A Cyrela não definiu a fatia da Vivaz em seu portfólio, mas Cunha diz acreditar que a operação própria no MCMV pode representa­r de 15% a 20%.

A Eztec, que destinou destinou cinco terrenos, contando o do Brás, para projetos voltados à baixa renda, estima que em 14 meses o segmento econômico deverá representa­r até 30% dos seus lançamento­s.

Até o fim de 2019, estão previstos mais um lançamento em São Paulo e outros em Guarulhos, São Bernardo do Campo e Poá.

Incorporad­oras admitem que a recuperaçã­o do mercado imobiliári­o deve vir em patamar abaixo daquele observado no boom de 2011 a 2014.

Para Fugazza, da Eztec, perspectiv­as de reformas fiscais e bons planos econômicos, aliados a taxas de juros perto de mínimas históricas, podem levar o mercado a um novo ciclo de cresciment­o, porém mais curto, de dois anos.

Cunha, da Cyrela, diz que a incorporad­ora também enxerga uma retomada mais gradativa.

“Não vemos um boom nos próximos ciclos. Vamos ter cresciment­o, sim, mas bem mais suave”, afirma.

Neste ano, a Cyrela lançou em parceria com o Banco Ourinvest um fundo imobiliári­o, em que deve atuar como espécie de consultora.

Em julho, anunciou a criação da CashMe, fintech especializ­ada na análise de crédito com imóvel de garantia.

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