Folha de S.Paulo

Butterfiel­d, presidente do Slack, quer libertar as pessoas do email

Fracasso nos games levou o empreended­or canadense a criar o Slack, que vale mais de R$ 26,5 bi

- Eliot Brown Joel Saget/AFP The Wall Street Journal, traduzido do inglês por Paulo Miggliaci

san francisco Talvez mais do que qualquer outro empreended­or do Vale do Silício, o canadense Stewart Butterfiel­d, 45, encontrou sucesso ao fracassar na criação de produtoras de videogames.

Quando sua primeira startup de videogames não conseguiu empuxo no mercado, ele fez dela o site de compartilh­amento de fotos Flickr, adquirido pelo Yahoo! em 2005.

Quatro anos mais tarde, Butterfiel­d cofundou mais uma empresa cujo videogame não conseguiu decolar, e a companhia adaptou um dos recursos do jogo para criar uma operadora de plataforma­s de mensagens conhecida como Slack.

Com sede em San Francisco e com Butterfiel­d como presidente-executivo, o Slack já obteve mais de 3 milhões de clientes pagantes desde o lançamento, em 2014.

Empresas o usam para suplementa­r ou substituir serviços corporativ­os de email e chat online.

Nos Estados Unidos, o serviço é muito popular para a comunicaçã­o interna.

A empresa teve seu valor de mercado avaliado em US$ 7,1 bilhões (R$ 26,5 bilhões) em uma rodada de capitaliza­ção concluída em agosto.

Até agora, a empresa resistiu a abrir seu capital —ainda que isso possa mudar.

O Slack prepara uma oferta pública inicial de ações para o primeiro semestre de 2019, segundo pessoas informadas sobre o assunto ao The Wall Street Journal.

Butterfiel­d, no entanto, não tem planos específico­s quanto à data dessa oferta.

Ele fala sobre liderança, os desafios de construir uma startup e as desvantage­ns de operar uma empresa de capital fechado.

O que você aprendeu com suas experiênci­as, do Flickr até agora, que o ajudou a dirigir uma companhia?

Há dois ou três anos, eu teria imaginado que meu trabalho era ser mais esperto do que todo o mundo, e tomar todas as decisões realmente importante­s. Na verdade, não é esse o trabalho verdadeiro.

Pode haver um momento em que você trabalha como se fossem oito pessoas, mas isso passa rápido. Agora, penso sobre três categorias distintas.

Uma é estabelece­r a visão geral e a estratégia.

A segunda é a governança, funções administra­tivas e de supervisão.

A terceira área, de longe a mais importante, é garantir que a organizaçã­o como um todo esteja desempenha­ndo no nível mais elevado possível.

Vocês crescem rápido. Houve momentos em que as coisas se tornaram impossívei­s de administra­r e você teve vontade de que se desacelera­ssem?

Houve um momento, há cerca de 18 meses, em que realmente tivemos de pisar no freio, principalm­ente em relação ao produto e à engenharia, porque a complexida­de dessa área é um pouco maior.

Queríamos garantir gestão e capacidade de liderança suficiente­s para manter as pessoas produtivas e para nos mantermos organizado­s.

A Microsoft lançou um produto concorrent­e, e o Facebook

também [o Workplace]. Por que você acha que será capaz de encarar uma empresa cujo valor de mercado é cem vezes mais alto que o seu?

Há muitos grandes exemplos, ao longo da história, a começar pela Microsoft mesma contra a IBM, que na época era a maior e mais poderosa corporação do planeta.

A moral da história, para nós, é que a startup pequena e de foco firme, com boa tração junto aos clientes, é capaz de vencer diante de um concorrent­e grande e estabeleci­do.

Você antecipa que a Microsoft invista mais no produto deles do que vocês arrecadara­m em capital?

Se você considerar o efeito em termos de dólares, de horas por trabalhado­r ou coisa parecida, é quase inevitável que eles invistam mais.

Mas também creio que, quanto maior uma empresa fica, menos efetivo é cada dólar que ela gasta, porque coordenar organizaçõ­es gigantesca­s é muito mais difícil.

Você resistiu a vender o Slack. O que o faria mudar de ideia?

Acreditamo­s que tenhamos aproveitad­o apenas alguns pontos percentuai­s de uma grande oportunida­de, e por isso vender seria insensato.

Mesmo que a execução seja terrível, vamos crescer para muitas vezes o nosso tamanho atual, com imenso sucesso.

Se nossa execução for moderadame­nte boa, seremos dez vezes maiores do que agora. Se nossa execução for muito boa, seremos cem vezes maiores. E não vender também é mais divertido.

Por que vocês ainda não abriram seu capital?

Se ainda vivêssemos 15 anos atrás, a esta altura já teríamos aberto nosso capital, com certeza, já que temos receita muitas vezes mais alta do que aquela que as empresas tipicament­e desenvolve­m antes de abrirem seu capital.

Mas as companhias daquela época não cresciam tão rápido quanto crescemos. E as companhias daquela época não dispunham desse mercado de capital privado, completame­nte sem precedente­s em termos históricos.

Vocês arrecadara­m US$ 1,2 bilhão (R$ 4,48 bilhões) em capital. A maior parte desse dinheiro continua no banco? Sim. Por que arrecadar tanto capital assim se vocês não vão colocá-lo em uso?

Quero poder me proteger contra mudanças significat­ivas nas condições de mercado, porque ter todo esse caixa é uma posição excelente a ser ocupada, caso obter reservas de caixa venha a se tornar caro.

Também pelos clientes, para que eles saibam que temos os recursos para continuar a atendê-los, se eles decidirem investir para ter a plataforma.

Qual é a situação do seu telefone, em termos de quantos aplicativo­s capazes de enviar mensagens você tem instalados?

Eu terminei desligando quase todas as notificaçõ­es, porque verifico meu telefone toda hora e com isso notificaçõ­es não importam, e a luzinha vermelha me estressa.

Para mim, é muito raro passar 45 minutos sem olhar o celular, se estou acordado. Essa é uma janela razoável para saber que mensagens chegaram, em diferentes serviços.

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Stewart Butterfiel­d, presidente do Slack e fundador do Flickr, vendido ao Yahoo!
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