Maquiagem coreana cresce no Brasil e inspira marcas do país
Empresas investem em base cushion e máscaras e adaptam itens para brasileira
Cushion, essence, sheet mask: essas palavras, ainda novas para o mercado da beleza brasileiro, começam a aparecer cada vez mais estampadas tanto nos produtos coreanos que chegam em grande escala ao país como nas versões nacionais.
O desembarque implica em adaptações ou mudanças no estilo da maquiagem da mulher brasileira e na maior aceitação da importância do cuidado e da hidratação da pele —na Coreia, as mulheres vão além do demaquilante e sabonete e são adeptas de muitas etapas de limpeza e nutrição.
A maquiagem da brasileira, assim como a da norteamericana, cobre manchas e busca afinar o rosto e o nariz. Nos olhos, predominam os tons mais escuros. E, por conta do calor e da pele oleosa, prefere-se uma pele com acabamento mais seco.
Já no k-beauty (termo usado para a beleza sul-coreana) a pele recebe uma finíssima cobertura de base e corretivo, que possuem textura bastante hidratante (às vezes com cara de brilhante demais ou pegajosa para a brasileira). Nos olhos, a preferência é por sombras claras, com toque de brilho, e delineador.
“As coreanas não gostam do mesmo tipo de maquiagem que as brasileiras, que é mais rebocada. Elas gostam de algo mais natural”, afirma a maquiadora Cindy Oh, brasileira filha de sul-coreanos.
Cindy sempre buscou referências orientais para comprar cosméticos e, como maquiadora, se especializou em atender mulheres com ascendência oriental em seu estúdio no Bom Retiro, bairro em São Paulo com forte presença de imigrantes sul-coreanos.
Kamilla Kim, também maquiadora especializada em maquiagem para orientais, prefere ficar no meio do caminho entre as referências.
“As clientes asiáticas que estão no Brasil há mais tempo não gostam da pele tão ‘molhada’ ou muito clara como é na Coreia. Preferem um acabamento mais matte [seco]. Elas também gostam de um olho mais trabalhado, com sombra esfumada e cílios postiços maiores, e sobrancelhas mais arqueadas, não tão retas como as coreanas”, explica.
Independentemente do tipo de maquiagem, a maquiadora diz que o cuidado com a pele deve ser inspirado no k-beauty, com limpeza do rosto, aplicação de tônico e vários tipos de hidratante. No k-beauty, o foco está mais para o tratamento da pele do que no potencial de cobertura e pigmentação das maquiagens.
O cuidado com a pele é justamente uma das marcas da chamada base cushion (almofada, em inglês). Em geral o produto combina a cobertura em cor com um alto fator de proteção solar e componentes hidratantes. Na Coreia do Sul esse formato é febre há anos.
Por aqui, marcas como O Boticário e Quem Disse, Berenice?, ambas do mesmo grupo, têm buscado entrar na tendência mundial do k-beauty adaptando os princípios da base cushion sul-coreana ao gosto das brasileiras.
“A nossa base cushion tem uma cobertura média, que deixa a pele com um toque sequinho mas, ao mesmo tempo, com acabamento natural ao longo do dia, como as brasileiras gostam”, afirma Marcella Nogueira, gerente de produto de maquiagem e perfumaria da marca, que lançou
o produto em setembro deste ano em oito cores. As duas linhas têm FPS 40 e cobrem bem mais a pele do que os produtos sul-coreanos.
Além dos produtos fabricados no Brasil, outras marcas começaram a vender aqui as cushions produzidas na Coreia. É o caso da Klasme.
Na Sephora Brasil também é possível encontrar a base cushion da marca sul-coreana Missha, que tem um dos BB Creams mais famosos do mundo, e suas máscaras faciais que hidratam e tratam e pele, as sheet masks —outro pilar do k-beauty.
“As mulheres sul-coreanas são obcecadas pela pele, que precisa ser extremamente hidratada e clara”, diz Cindy.
Na loja Loretta, na Liberdade, há toda uma parede dedicada às máscaras. Há opções para todas as áreas da face (rosto todo ou somente olhos e lábios) e para todos os bolsos, a partir de R$ 8.
Nas farmácias também é cada vez mais fácil encontrar máscaras faciais de marcas como a americana Kiss NY. Há também linhas das marcas nacionais Belizz e Ricca.
No famoso passo a passo de cuidados das coreanas, bastante longo para muitas brasileiras, a limpeza é a parte mais fundamental.
“Quando estou maquiada, faço primeiro a limpeza com óleo de limpeza, depois uso sabonete facial para limpar mais e outro para acne. Então passo tônico, sérum, hidratante, creme para os olhos e hidratante labial”, diz Cindy.
O cuidado com a pele vale para homens e mulheres. Kamilla, que morou em Seul, diz que era comum ver tanto meninas como meninos andando pelos corredores do alojamento estudantil com o rosto coberto pelas máscaras faciais — há modelos com desenho de bichos, como pandas, e até pokémons.
E claro que o k-pop não ficaria de fora da k-beauty. Já é possível encontrar aqui os kits feitos em parceria com uma das bandas mais famosas de k-pop, o BTS. Os cantores costumam publicar vídeos nas redes sociais usando as máscaras da MediHeal, uma das mais vendidas na Coreia.
Depois das cushions e das máscaras faciais, os hidratantes mais leves, chamados de essence, também começaram a chegar por aqui. O Boticário lançou, no final de setembro, uma nova linha de cuidados faciais com mais etapas incluindo o creme fluido, bem leve.
Quem quiser conhecer um pouco mais sobre os cosméticos sul-coreanos vale o passeio pelo Bom Retiro. Na rua Prates, há mercearia, farmácia e dois salões de cabeleireiro coreanos. Nos mercadinhos é comum ter um espaço para cosméticos. As máscaras são onipresentes e vale pedir dicas para as vendedoras coreanas, já que as embalagens não têm tradução.
Na rua Correia de Melo, 23, a perfumaria Amore vende algumas marcas coreanas como Laneige e Iope. Na Liberdade, no centro de São Paulo, o K-mart (rua dos Estudantes, 41) tem uma sessão de cosméticos. Na rua Galvão Bueno, além da Loretta Farma, vale garimpar nas galerias.