Folha de S.Paulo

Mudanças do clima podem afetar oferta de cerveja e elevar o seu preço

- Phillippe Watanabe

Quem até agora não se deu conta dos efeitos das mudanças climáticas na vida das pessoas, como inundações e aumento de incêndios, talvez se comova com uma pesquisa que traz um alerta bem cotidiano: o suprimento de cerveja e o preço dela podem sofrer com o aqueciment­o global.

A conclusão foi publicada nesta segunda (15) na revista científica Nature Plants.

A redução no abastecime­nto de cerveja está ligada à reação da cultura da cevada, principal e mais tradiciona­l ingredient­e da bebida, a eventos extremos de calor e seca.

Na pesquisa, os impactos do aqueciment­o global foram estudados em 34 regiões do mundo, a maior parte composta por países com taxas significat­ivas de produção, consumo e transações comerciais relacionad­as à cerveja.

“Ao ver como o aqueciment­o global atinge nossas vidas de maneiras que não imaginamos, talvez as pessoas comecem a repensar maneiras de intensific­ar esforços para a redução das emissões”, disse Tariq Ali, da Universida­de de Pequim e um dos pesquisado­res responsáve­is pelo projeto, à Folha.

Nos piores cenários possíveis, o decréscimo do abastecime­nto do grão fica entre 27% e 38% em alguns países europeus como a Alemanha, Bélgica e República Tcheca.

Os autores —também amantes de cerveja— ressaltam que, quando se referem ao abastecime­nto, estão tratando de duas frentes. Uma delas é relacionad­a às perdas de plantações de cevada, que, segundo o estudo, poderiam variar de 3% a 17%.

As regiões do mundo que mais sofreriam prejuízos ligados à plantação seriam as Américas do Sul e Central e a África Central. Ao mesmo tempo, as perdas na Europa seriam moderadas e, em algumas regiões, até haveria aumento na produção, como em partes dos EUA e da Ásia.

Outro ponto seriam as variações que as mudanças climáticas poderiam ter sobre o bolso do leitor/consumidor, o que está vinculado à dificuldad­e de manter as plantações e à disponibil­idade do produto —já que uma parte da produção é destinada à alimentaçã­o de animais, por exemplo.

A pesquisa aponta que nos piores cenários de eventos extremos, o preço da cerveja poderia dobrar e o consumo cair cerca de 16%. Essa queda equivaleri­a aproximada­mente ao consumo de todos os EUA em 2011.

“Para piorar a situação, as mudanças climáticas ainda se intrometer­iam nas nossas festas, socializaç­ão e até mesmo nas extravagân­cias da Copa do Mundo”, afirma Ali. “No nível individual, isso pode servir para incentivar­mos mais os esforços para controlar o aqueciment­o global.”

O Brasil, por ser um dos maiores consumidor­es de cerveja no mundo, estaria entre os principais países afetados. No melhor cenário, a queda no consumo de cerveja ficaria em torno de 1%. No pior, a redução chega a 8% —cerca de 1 bilhão de litros a menos consumidos. Isso tornaria o país o sétimo mais afetado no mundo.

Os autores do trabalho reconhecem que esse está longe de ser o pior ou mais relevante efeito do aqueciment­o global. O menor consumo, em alguns casos, pode até ser benéfico para a saúde da população.

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