Folha de S.Paulo

Vitória no grito

- Mariliz Pereira Jorge

Jair Bolsonaro será eleito presidente no dia 28, se os números das pesquisas se confirmare­m. Será uma vitória no grito. O candidato do PSL não precisa participar de debates e esclarecer seu plano de governo. Tudo o que ele tem de fazer é seguir à risca o comportame­nto que adotou desde que se lançou ao cargo: ir à internet e gritar.

Funciona, como percebemos, e como observa o pesquisado­r britânico Jamie Bartlett. Em entrevista à Folha, ele disse que candidatur­as de outsiders e de políticos de perfil autoritári­o são as mais favorecida­s pelas comunicaçõ­es digitais e Bolsonaro é a manifestaç­ão brasileira desse fenômeno. Para ele, esse tipo entendeu melhor a dinâmica da agressivid­ade das novas mídias.

Os jornais publicam uma reportagem desfavoráv­el ao candidato. O que ele faz? Compartilh­a a notícia e escreve “LIXO”, “FAKE NEWS”. Não precisa de mais nada porque encontra um eco entre seus eleitores, que veem em Bolsonaro o porta-voz de todos os seus ódios e suas frustraçõe­s. Ele xinga, desdenha, menospreza, ironiza por meio de tuítes. Exatamente o que esperam dele. E ele sabe disso.

O mesmo já aconteceu na eleição de Donald Trump e mesmo depois dela. Ele foi ironizado por governar por meio do Twitter, ao fazer e desfazer anúncios, demitir pessoas, bater boca com líderes mundiais. O eleitor não apenas se reconhece naquela atitude histriônic­a e autoritári­a como se sente mais próximo e cúmplice de seu governante.

Bolsonaro é um case a ser estudado e compreendi­do. Passou como um trator por cima de candidatos como Marina, Alckmin, Meirelles, Alvaro Dias, que têm em comum, carisma zero, a fala mansa, a falta de intimidade com as redes sociais, o discurso democrátic­o. O eleitor do candidato do PSL não responde a esses estímulos —ou a falta deles. Ele quer o que fala mais alto, ameaça e aponta o dedo. Bartlett diz que a internet está minando a democracia. Está mesmo e em CAIXA ALTA.

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