Folha de S.Paulo

Só 4 das 50 imagens mais replicadas em WhatsApp são verdadeira­s, diz estudo

Grupo que analisou mensagens trocadas no aplicativo cobra e sugere ações da empresa

- Reprodução

Um estudo da USP, UFMG e da Agência Lupa analisou o grau de veracidade de 50 imagens que mais circularam em grupos abertos de WhatsApp entre os dias 16 de agosto e 7 de outubro de 2018, período de campanha do primeiro turno das eleições. Segundo o levantamen­to, apenas quatro eram verdadeira­s.

O estudo usou como base um levantamen­to feito em 347 grupos públicos de discussão política no WhatsApp, monitorado­s pelo projeto Eleições sem Fake, mantido pela UFMG.

Nesses grupos públicos, 18.088 usuários postaram 846.905 mensagens. Dentre elas, 107.256 eram imagens; 71.931 eram vídeos; 13.890, áudios; 562.866, mensagens de texto e 90.962, links externos.

Essas informaçõe­s foram compartilh­adas em comunidade­s abertas às quais o grupo de estudos teve acesso.

Mensagens trocadas entre dois usuários do aplicativo ou entre um grupo fechado, apenas com convidados, são sigilosas e não compartilh­adas pelo WhatsApp.

Foram destacadas as 50 imagens mais compartilh­adas, que passaram então por checagem da Agência Lupa. Dessas, apenas quatro eram comprovada­mente verdadeira­s, segundo o estudo.

Entre as notícias falsas es- tá a montagem de uma foto com o ditador cubano Fidel Castro ao lado da ex-presidente Dilma Rousseff. A imagem foi manipulada.

Há outros casos de manipulaçõ­es de imagens replicadas por eleitores de Jair Bolsonaro (PSL).

O levantamen­to aponta ainda que apoiadores de Fernando Haddad (PT) distorcem posições e propostas de Jair Bolsonaro sobre impostos e salário mínimo, exagerando dados.

O trio que coordenou o levantamen­to —Cristina Tardáguila, diretora da Agência Lupa, Fabrício Benevenuto, cientista da computação e professor da UFMG, e Pablo Ortellado, professor da USP e colunista da Folha— assinou um artigo no jornal americano New York Times sobre o impacto das fake news compartilh­adas pelo WhatsApp nas eleições presidenci­ais.

Com base no estudo, eles cobram uma ação do WhatsApp contra a proliferaç­ão de fake news —notícias falsas, manipulada­s e divulgadas na rede.

“Infelizmen­te, no primeiro turno o aplicativo foi usado para espalhar quantidade alarmante de desinforma­ção, rumores e notícias falsas”, diz o texto.

O artigo cita também pesquisa Datafolha que aponta que 44% dos eleitores dizem se informar pelo aplicativo de troca de mensagens.

O grupo que coordenou o estudo sugere três ações específica­s que poderiam ser tomadas pela empresa: restringir o número de vezes que uma única mensagem pode ser replicada, restringir o número de destinatár­ios para quem uma mensagem pode ser enviada e aumentar o limite do número de usuários em cada grupo —hoje são 256.

Procurado pela Folha, o WhatsApp não se pronunciou até a publicação desta reportagem.

Em artigo publicado na Folha, o vice-presidente do WhatsApp,Chris Daniels, afirmou que a empresa está tomando providênci­as contra o uso do aplicativo para disseminaç­ão de fake news.

O texto não cita nem tem relação com o estudo crítico ao WhatsApp divulgado nesta quarta. Entre as ações que a empresa diz estar tomando, cita a remoção “de milhares de contas por spam” e que incentivou “iniciativa­s de checagem de fatos no Brasil”.

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Imagem que mostra Dilma ao lado de Fidel Castro é falsa; a de Fernando Henrique Cardoso e Lula é verdadeira
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