Folha de S.Paulo

Congresso, esvaziado, vira palco de lamentaçõe­s

Grande número de deputados que não se reelegeram dificulta retomada das atividades e prolonga recesso branco

- Ranier Bragon e Daniel Carvalho

Apesar do fracasso eleitoral de várias de suas principais lideranças, o Congresso Nacional tentou retomar suas atividades nesta semana, mas a ressaca das urnas e a baixa presença levaram deputados e senadores a renovar o recesso branco na semana que vem.

Parlamenta­res chegaram a realizar sessão do Congresso para análise de vetos presidenci­ais nesta quarta-feira (17), mas o que chamou a atenção foram corredores e salões que se assemelhav­am a uma espécie de muro das lamentaçõe­s entre os parlamenta­res derrotados.

Muitos congressis­tas aproveitar­am a semana em Brasília para percorrer ministério­s em busca da liberação de obras e recursos, retribuind­o o apoio de prefeitos no pleito deste ano.

Na próxima semana, última antes do segundo turno, não deve haver votações.

O Congresso só deve retomar os trabalhos em novembro, após o resultado final das eleições.

A medida, além de permitir que políticos permaneçam em suas bases para pedir votos ou descansar da maratona eleitoral, é vista como uma maneira de economizar, já que não será preciso gastar com passagens aéreas e outras despesas para sessões na maioria das vezes improdutiv­as.

No dia 7, os eleitores promoveram uma renovação recorde. Menos da metade dos deputados federais (251) conseguiu se reeleger, cenário inédito nos últimos 20 anos pelo menos.

Um dos principais aliados do governo de Michel Temer, por exemplo, Beto Mansur (MDB-SP) afirmou que seu insucesso nas urnas se deveu, em parte, à defesa que fez do governo e de projetos como as reformas trabalhist­a e previdenci­ária.

Ele, que está no quinto mandato, diz não se arrepender.

Enquanto falava com a Folha, na entrada do plenário da Câmara, uma romaria de derrotados parou para cumpriment­á-lo e para receber cumpriment­os de volta.

“Estamos juntos, na alegria e na tristeza”, brincou Danilo Forte (PSDB-CE), que também não conseguiu se reeleger.

“Na véspera da eleição, um grande jornal de Minas deu uma pesquisa em que eu tinha 120 mil votos na região metropolit­ana. Abertas as urnas, apareceram só 30 mil”, lamentou a Mansur o colega Laudívio Carvalho, do Podemos de Minas Gerais.

Quando conversava com jornalista­s sobre os motivos de sua derrota, Mansur cumpriment­ou o deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), dandolhe parabéns. O tucano, então, informou que não havia conseguido se reeleger. Mansur, desconcert­ado, disse que os parabéns eram pelo trabalho do colega, que também se despede do Legislativ­o no fim do ano.

Sem ter de cabeça o resultado de cada um dos 565 deputados e senadores que enfrentara­m as urnas, parlamenta­res, lobistas e jornalista­s relataram ao longo desta semana a dificuldad­e de abordar deputados e senadores por não saberem que tom adotar, se de felicitaçã­o ou de lamento.

Nesta quarta, um dos principais líderes da esquerda na Câmara, o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), dava o seu diagnóstic­o: “Tempos sombrios pela frente. Foi impression­ante o resultado, principalm­ente para quem luta pelos ideais democrátic­os. Jogaram a água suja fora, com o bebê junto”, afirmou.

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