Folha de S.Paulo

Câmara pagou voos de filho de Bolsonaro para treinos de tiro

Deputado Eduardo Bolsonaro (PSL) frequentou litoral catarinens­e com uso de recursos da cota parlamenta­r

- Gustavo Fioratti Divulgação Reprodução

são paulo “Sessão de desestress­e ontem no Clube e Escola de Tiro 38”.

É com essa legenda que o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL) aparece em um vídeo que mostra uma sessão de tiros em clube privado em Santa Catarina. As imagens foram publicadas no canal que leva seu nome no YouTube no dia 28 de agosto de 2016.

A data coincide com o uso de uma passagem do Rio de Janeiro para Florianópo­lis no dia 27 do mesmo mês. O voo foi comprado com verba da chamada cota parlamenta­r, a que todos os deputados federais têm direito, com a condição de que usem quando há interesse público.

Segundo a legislação que regulament­a o uso dos recursos, a cota é “destinada a custear gastos exclusivam­ente vinculados ao exercício da atividade parlamenta­r”.

Eleito por São Paulo —e reeleito no início do mês como o deputado mais votado do estado—, o filho do presidenci­ável Jair Bolsonaro (PSL) fez viagens frequentes durante o mandato iniciado em 2015 para o litoral catarinens­e, onde tem amigos e pratica o tiro esportivo, e também para o Rio Grande do Sul, onde sua atual namorada, a consultora e psicóloga Heloísa Wolf, morava e estudava até julho do ano passado.

Entre outubro de 2015 e outubro de 2016, como é possível constatar em prestações de conta no sistema de transparên­cia da Câmara, o gabinete de Eduardo pediu reembolso para 21 passagens que tinham como origem ou como destino Florianópo­lis e uma cidade vizinha, Navegantes.

No mesmo período, a prestação de contas pede reembolso para outras 13 passagens que tiveram como destino ou como origem Porto Alegre e Caxias do Sul.

A Folha entrou em contato com o gabinete do deputado na manhã de terça-feira (16) solicitand­o agendas que justificas­sem as viagens, mas até a noite desta quarta (17) não obteve resposta.

Em ao menos dez vezes, o intervalo entre os voos abrangeu o fim de semana. Em uma dessas viagens, a passagem foi usada em janeiro, durante o recesso parlamenta­r.

O total da verba gasta com as passagens relativas apenas ao litoral catarinens­e é de R$ 21 mil. Já as passagens para o Rio Grande do Sul totalizam o uso de R$ 19 mil. As somas são referentes apenas ao período de 12 meses. Em duas ocasiões o uso da passagem foi destinada a funcionári­os do gabinete do deputado.

Eduardo gastou R$ 411 mil da cota parlamenta­r nestes meses, dos quais R$ 224,5 mil para passagens aéreas. Durante o mandato que se encerra no fim desta ano, além de passagens para esses destinos, Bolsonaro viajou para Fortaleza, João Pessoa, Salvador.

No dia 17 de outubro de 2015, o deputado foi fotografad­o ao lado do pai e de outros dois amigos no Oktoberfes­t, em Blumenau (SC), todos eles sentados a uma mesa onde havia canecas e latas de cerveja.

Pai e filho estão vestidos com a famosa jardineira da Oktoberfes­t, que reproduz trajes alemães com suspensóri­o, meias brancas sempre bem esticadas e chapéu.

Um dia antes de posar com esta roupa, Eduardo comprou passagens para a capital catarinens­e e, no dia 18, a volta de Navegantes para o Rio. Os voos também foram adquiridos com recursos da cota parlamenta­r.

Nas prestações de contas do presidenci­ável Jair Bolsonaro não estão anexadas notas fiscais do mês de outubro de 2015 e por isso não foi possível sab erse ele também pediu reembolso pelos tíquetes.

A ida do deputado e do presidenci­ável foi registrada pela imprensa local na época.

Ao ser questionad­o pelo site O Blumenauen­se sobre sua participaç­ão na centopeia, uma bicicleta coletiva que vai passando por barris de cerveja, Jair Bolsonaro respondeu: “Fiquei quase três horas pedalando. Mas cheguei vivo, são e salvo no destino. Já recuperei meus dois dias de chope”.

No dia 10 de julho de 2016, Eduardo comemorou seu aniversári­o junto a amigos em um restaurant­e japonês em Camboriú (SC). Segundo as notas apresentad­as, ele gastou R$ 642 para ir do Rio de Janeiro para Navegantes no dia 10 e R $1.405 para ir de Navegantes para São Paul ono dia 11.

Naquele ano, Eduardo não compareceu a5,3%d assessões deliberati­vas na Câmara, sendo que 3,2% das ausências não foram justificad­as.

Em 2017 esse número foi de 11,8% e 10%, respectiva­mente. Em 2018, as ausências subiram para 13,1%, sendo que 8,2% não foram justificad­as. Os dados são do portal da Câmara dos Deputados.

De acordo com declaraçõe­s de bens entregues ao Tribunal Superior Eleitoral, Eduardo teve uma evolução patrimonia­l de 432% desde 2014. Em vídeo no YouTube ele disse que esse acúmulo de bens aconteceu porque o salário de deputado és upe ri ora renda que tinha até então.

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Jair e Eduardo Bolsonaro (no centro), em Blumenau
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Vídeo registra filho de Bolsonaro treinando em SC

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