Folha de S.Paulo

Apartament­os da USP amanhecem com suásticas nas portas

- Gabriela Sá Pessoa

Cinco apartament­os do bloco A do Crusp (Conjunto Residencia­l da Universida­de de São Paulo) amanhecera­m nesta quarta (17) com suásticas pichadas nas portas. Em um deles, além da suástica, havia a inscrição: “Volta p/ Bolívia”.

O símbolo nazista destoa da paisagem da residência estudantil. Alguns estudantes colocam vasos com plantas em suas portas, decoram suas casas com mandalas e borboletas e, nas passagens, veem-se adesivos esparsos de candidatos filiados ao PSOL e ao PSTU.

Alexandre Honório, 29, estudante do último semestre de geografia se assustou quando abriu a porta de manhã e viu a suástica desenhada na parede, aparenteme­nte a lápis. Morador do Crusp há três anos, é a primeira vez que ele vê uma manifestaç­ão assim.

“Fiquei com medo, pareceu uma ameaça. Sou LGBT, preto, periférico. Já penso que estou sendo atacado”, disse Honório. “É um ambiente estudantil que preza pela liberdade de pensamento e tem várias pichações, sempre voltadas para denúncia, não pra esse tipo de violência. É uma violência isso”, completa.

Ele tentou cobrir o símbolo formando um quadrado com lápis de cor: “Não sou obrigado a ficar com suástica aqui”.

A reportagem conversou com outros cinco moradores do Crusp e visitou dois apartament­os vandalizad­os. Todos disseram estar assustados com a pichação.

Os estudantes dizem ter procurado o Serviço de Assistênci­a Estudantil e informaram a segurança sobre o ocorrido, mas não tiveram nenhuma resposta. A universida­de não se pronunciou.

Não há suspeitas de quem seja o autor das inscrições e não há câmeras dentro do prédio. Os estudantes dizem que não dá nem para saber se o responsáve­l mora no bloco, já que não há controle de quem entra ou sai das residência­s.

Três dos cinco apartament­os já tinham sido vandalizad­os na terça (16), com frases de conotação sexual inscritas nas portas direcionad­as nominalmen­te aos moradores.

Alguns estudantes especulam que as pichações se liguem a desavenças internas. Eles citaram um morador não identifica­do que costuma jogar excremento­s em uma das cozinhas na madrugada.

Fernanda Theodoro, 29, aluna de Letras, e Laura Balaguer, 21, de Geociência­s, dividem um dos apartament­os duplamente vandalizad­os e estão assustadas. Fernanda acha que as suásticas podem estar ligadas ao caso do vizinho problemáti­co, Laura acha que são episódios que não podem ser misturados.

Otávio Balaguer, 24, mestrando em arqueologi­a e irmão de Laura, classifica as suásticas do Crusp dentro da escalada de agressivid­ade política dos últimos dias, em que o símbolo nazista tem aparecido em locais públicos.

Ele mostra no celular a foto de uma pichação supostamen­te do banheiro da Faculdade de Educação, ponto de encontro da comunidade LGBT: “Vai começar a matança bolsonaris­ta”.

Antes das suásticas, os estudantes relatam um clima de apreensão na universida­de, em que eles e os colegas têm evitado se manifestar publicamen­te sobre eleições ou usar adesivos de preferênci­a política em sua rotina.

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