Folha de S.Paulo

PF vê indícios de propina de R$ 5,9 milhões para Temer no setor portuário

- Pedro Ladeira/Folhapress Camila Mattoso e Letícia Casado

O relatório final da Polícia Federal vê indícios de que o presidente Michel Temer (MDB) recebeu diretament­e R$ 5,9 milhões de propina no setor portuário.

De acordo com o texto, assinado pelo delegado Cleyber Malta Lopes, os valores teriam sido pagos pela Rodrimar, pelo grupo J&F e pelo grupo Libra, em doações oficiais e em dinheiro vivo.

A PF afirma que “o setor portuário sempre foi área de influência e interesse do MDB e do presidente” e por isso as indicações até hoje são feitas pelo partido.

O relatório da polícia aponta que o coronel João Baptista Lima Filho seria o intermedia­dor do emedebista.

A PF enviou nesta terça (16) ao Supremo Tribunal Federal o indiciamen­to do presidente e mais dez pessoas. O relator do caso é o ministro Luís Roberto Barroso. O Ministério Público é quem tem competênci­a para fazer a denúncia. A polícia pediu a prisão de quatro investigad­os, entre eles o coronel Lima.

A defesa de Temer entrou com pedido no STF em que questiona a possibilid­ade de indiciamen­to do presidente da República pela PF.

Para os advogados do presidente, a PF usurpou competênci­a do STF ao fazer o indiciamen­to e a “repercussã­o do ato visivelmen­te ilegal” prejudica a honra do presidente, “com reflexos inclusive na estabilida­de da nação”.

A defesa afirma que não teve tempo de analisar o material, mas ressalta que Temer não praticou qualquer dos delitos que lhe foram atribuídos “e que, segurament­e, não há elementos suficiente­s para justificar a conclusão lá exposta”.

No relatório da polícia, que tem quase 900 páginas, Malta Lopes descreve que havia uma engenharia financeira para a lavagem de dinheiro, à disposição principalm­ente de Temer, que funciona há pelo menos 20 anos.

Aberto em 2017, o inquérito buscava esclarecer se Temer recebeu, por meio do militar aposentado, propina em troca da edição de um decreto que teria beneficiad­o companhias que atuam no porto de Santos. A medida assinada por Temer permitiu ampliar de 25 para 35 anos os contratos de concessões e arrendamen­tos no porto firmados após 1993.

Outro ponto do relatório da PF é uma reforma realizada na casa da filha do emedebista, entre 2013 e 2015.

Como a Folha revelou em abril, a mulher do coronel, Maria Rita Fratezi, pagou em dinheiro despesas da obra do imóvel de Maristela Temer, filha do presidente.

O relatório final da PF diz haver “indícios concretos” de que dinheiro de propina da JBS a Temer pagou a reforma da casa de Maristela.

Segundo o delegado Malta Lopes, o emedebista acompanhou detalhes da obra, inclusive financeiro­s, contradize­ndo depoimento­s da família. De acordo com o texto enviado ao STF, o presidente era copiado em emails.

A reforma foi realizada de 2013 a 2015 e, segundo a investigaç­ão, pode ter custado até R$ 2 milhões. Grande parte foi paga com dinheiro vivo.

A casa de Maristela fica em Alto de Pinheiros, na zona oeste de SP. Quem comandou a obra foi o coronel Lima Filho e sua esposa, Maria Rita Fratezi, que é arquiteta. Em delação premiada, executivos da JBS disseram que repassaram R$ 1 milhão a Lima, a pedido de Temer.

 ??  ?? O presidente Michel Temer, durante cerimônia no Palácio do Planalto nesta quarta-feira (17)
O presidente Michel Temer, durante cerimônia no Palácio do Planalto nesta quarta-feira (17)

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil