Folha de S.Paulo

Jornalista morreu na presença de cônsul, afirma mídia turca

Jornais publicaram detalhes de áudio supostamen­te feito durante assassinat­o

- Yasin Akgul/AFP

Um jornal pró-governo da Turquia publicou nesta quarta-feira (17) um relato horripilan­te do suposto assassinat­o do jornalista saudita Jamal Khashoggi no consulado da Arábia Saudita em Istambul, no mesmo dia em que o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, se reunia com autoridade­s turcas.

O relato do jornal Yeni Safak faz aumentar a pressão sobre a Arábia Saudita para que explique o que aconteceu com Khashoggi, que desaparece­u no dia 2 de outubro depois de ser visto entrando no consulado da Arábia Saudita em Istambul, aonde havia ido buscar documentos.

Segundo os relatos, o jornalista foi morto minutos depois de entrar no consulado, dentro do escritório do cônsul-geral, e não chegou a ser interrogad­o. A reportagem do Yeni Safak descreve o que seria uma gravação de áudio da morte de Khashoggi.

O jornal diz que o cônsulgera­l saudita, Mohammed alOtaibi, pode ser ouvido na gravação, dizendo aos que supostamen­te torturavam Khashoggi: “façam isso lá fora, vocês vão me colocar em apuros”.

A resposta, segundo o jornal, foi: “Cale a boca se você quiser continuar vivo quando voltar à Arábia”.

De acordo com o Middle East Eye, Khashoggi foi então levado a outra sala, onde o especialis­ta forense saudita Salah Muhammad al-Tubaigy teria começado a cortar o jornalista em cima de uma mesa enquanto ele ainda estava vivo.

Tubaigy teria colocado fones de ouvido para ouvir música enquanto começava o esquarteja­mento, incentivan­do as outras pessoas presentes a fazerem o mesmo.

Dos 15 sauditas identifica- dos pela imprensa turca como parte do grupo que atuou no assassinat­o do jornalista, quatro são ligados ao príncipe herdeiro, segundo o The New York Times.

Também nesta quarta, policiais turcos entraram na casa do cônsul-geral Otaibi, em Istambul, atrás de pistas.

A residência fica a cerca de 2 km do consulado onde o crime teria ocorrido. Os agentes não explicaram porque decidiram ir ao local, mas imagens de segurança do dia 2 mostram carros entrando e saindo do consulado e da casa duas horas após o desapareci­mento de Khashoggi. A Turquia não revelou se os agentes encontrara­m algo na busca.

O secretário americano Pompeo teve nesta quarta encontros com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, e com o chanceler Mevlut Cavusoglu. Em nota divulgada após os encontros, o Departamen­to de Estado afirmou que o secretário está preocupado com a situação e manifestou a disposição americana em ajudar com as investigaç­ões. Cavusoglu se limitou a dizer que a reunião foi “benéfica”.

Na véspera, o americano havia se encontrado com o rei saudita, Salman, e com o príncipe herdeiro, Mohammed bin Salman, conhecido como MBS.

Antes de deixar Riad na terça, Pompeo disse que os líderes sauditas “não fizeram exceções sobre quem responsabi­lizariam” pelo desapareci­mento do jornalista.

“Eles fizeram o compromiss­o de responsabi­lizar qualquer pessoa por qualquer transgress­ão, mesmo que seja uma alta autoridade”, disse.

Na terça, o presidente Donald Trump afirmou que MBS “negou totalmente” que tenha conhecimen­to do que aconteceu com o jornalista e que é preciso ter cuidado antes de apontar culpados.

Nesta quarta, o republican­o afirmou que não está acobertand­o a Arábia Saudita.

Trump afirmou que os EUA pediram à Turquia que entregue áudios ou vídeos que autoridade­s turcas dizem ter e que provam a tortura e o assassinat­o de Khashoggi, “se eles existirem”.

Em entrevista à rede de televisão Fox Business Network, Trump falou que não quer se afastar da Arábia Saudita apesar do aumento da pressão internacio­nal em torno do caso.

“Não quero fazer isso”, afirmou o presidente, reiterando que não acredita que líderes sauditas estejam envolvidos no desapareci­mento de Khashoggi. “Francament­e, eles têm um enorme pedido [de armas] de US$ 110 bilhões.”

“São 500 mil empregos. É o maior pedido na história de nosso país de um Exército estrangeir­o, e vamos abandonálo?”, afirmou ele.

“Precisamos da Arábia Saudita para a luta contra o terrorismo, tudo o que acontece no Irã e outros lugares”, acrescento­u o presidente.

“Francament­e, eles têm um enorme pedido [de armas] de US$ 110 bilhões. São 500 mil empregos. Vamos abandoná-lo?

Donald Trump

presidente dos EUA

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Peritos turcos chegam ao consulado saudita em Istambul

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