Folha de S.Paulo

Recorde de famílias cruzando fronteira enfurece Trump

Presidente americano queria retomar separação de crianças, mas foi demovido por temor de revés eleitoral

- Nick Miroff e Josh Dawsey The Washington Post; tradução de Paulo Migliacci

O número de pais imigrantes que entram ilegalment­e nos EUA com seus filhos chegou a um recorde nos três meses transcorri­dos da decisão do presidente Donald Trump de suspender a separação de famílias na fronteira.

Segundo o Departamen­to de Segurança Doméstica, foram detidos 16.658 membros de famílias em setembro, maior total mensal já registrado e alta de 80% em relação a julho.

“Estamos recebendo número imenso de pessoas a cada dia”, disse ao Washington Post um agente da patrulha de fronteira no Texas, que falou sob a condição de que seu nome não fosse divulgado.

Tendo prometido que deteria a imigração ilegal e construiri­a um muro na fronteira, Trump agora enfrenta desafios de policiamen­to cada vez maiores e sem solução à vista.

O recorde e uma nova caravana de imigrantes centro-americanos a caminho da fronteira despertara­m a fúria do presidente, dizem assessores da Casa Branca.

O republican­o vem recebendo informaçõe­s atualizada­s sobre as pessoas que cruzam as fronteiras, e disse ao assessor político sênior Stephen Miller e ao chefe de gabinete, John Kelly, que algo precisa mudar, segundo funcionári­os do governo.

Assessores como Miller e a porta-voz, Sarah Huckabee Sanders, vêm dizendo continuame­nte ao presidente que muitas das crianças que estão atravessan­do a fronteira são contraband­eadas para o país, e que os imigrantes estão tirando vantagem dos EUA.

A ira crescente do presidente o levou a pressionar uma vez mais por alguma forma de separação de famílias, que ele considera ser o único método que funcionou, apesar das controvérs­ias.

Um importante funcionári­o do governo admitiu que a separação foi revogada para conter a fúria que despertou, mas que isso terminou enviando um sinal claro de que as pessoas deveriam cruzar a fronteira; “agora estamos sendo esmagados”, ele disse.

Republican­os que trabalham na campanha para as eleições legislativ­as dizem que a separação de famílias levou a um dos piores índices de aprovação do presidente, e que reintroduz­i-la poderia prejudicar os candidatos do partido, que já ficam para trás em muitos distritos eleitorais disputados.

Trump continua a criticar a secretária de Segurança Do- méstica, Kirstjen Nielsen, e pediu que o secretário de Estado, Mike Pompeo, torne mais difícil o ingresso de imigrantes centro-americanos e insira a questão na pauta das negociaçõe­s de comércio.

Um importante funcionári­o do Departamen­to de Segurança Doméstica disse na quarta-feira que Nielsen continua a liderar os contatos com líderes centro-americanos sobre questões imigrató- rias, e que ela vem mantendo contato regular com o governo mexicano e a equipe do presidente eleito Andrés Manuel López Obrador.

Na terça (16), Trump ameaçou cortar a assistênci­a à Guatemala, Honduras e El Salvador se “permitirem que seus cidadãos, ou outros, cruzem suas fronteiras a caminho dos EUA”.

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