‘Protesto do batom vermelho’ contra ditador da Nicarágua viraliza nas redes
Um batom vermelho é a nova arma pacífica usada por nicaraguenses para protestar contra o regime do ditador Daniel Ortega.
As redes sociais estão cheias de fotos de mulheres —e alguns homens também— com os lábios pintados de vermelho, acompanhadas da hashtag #YoSoyPicoRojo (eu sou boca vermelha).
A campanha foi inspirada em episódio envolvendo uma mulher de 68 anos, presa no domingo (14) com dezenas de pessoas que pretendiam participar de manifestação.
Mãe de quatro filhos e avó de cinco netos, a socióloga e ativista feminista Marlen Chow Cruz foi levada, junto com outras mulheres, à prisão de El Chipote, conhecida como lugar de tortura de dissidentes. Lá, encontrou um batom vermelho em sua bolsa e o distribuiu, sem fazer alarde, para as outras presas usarem.
Quando um policial perguntou a que organização terrorista pertencia, ela respondeu que era da Associação das Mulheres Nicaraguenses de Batom Vermelho. As outras detentas a imitaram.
“Os guardas ficaram desconcertados”, contou Marlen à Folha. “Não sabiam do que se tratava, ficaram sem reação. A prisão é um ambiente de humilhação, repressão. Tive a ideia do batom vermelho para sair dessa situação mental. Usamos o recurso que tínhamos para demonstrar nossa rebeldia diante daquela situação, de termos sido sequestradas”, completou.
A ativista, que foi solta no mesmo dia, afirma que o protesto é uma forma de cobrar a liberdade de outros que continuam presos —organizações de direitos humanos falam em 38 detidos no domingo, mas a socióloga diz que foram mais.
Marlen apoiou a Frente Sandinista de Ortega durante a derrubada da ditadura de Anastasio Somoza em 1979, mas se diz decepcionada com o atual governo dele.
“Há muito tempo, insistimos na resistência pacífica diante da repressão armada das forças militares. Assim vamos conseguir muito mais do que se começássemos uma luta armada, com milhares de mortos”, afirma, antes de terminar o telefonema mandando “beijos de batom vermelho”.
Celebridades como Adriana Paniagua, Miss Nicarágua 2018, aderiram à manifestação do batom vermelho. Nicaraguenses que moram no Brasil também participaram.
Desde abril, a Nicarágua vive onda de protestos pedindo a saída de Ortega. A forte repressão já deixou mais de 320 mortos e ao menos 500 presos. Nos últimos 11 anos, o exlíder sandinista se consolidou no poder por meio de alterações na Constituição, da expulsão de políticos de oposição do Congresso e de eleição questionada em 2016 que lhe deu o terceiro mandato.