Covas prevê menor gasto em corredor de ônibus em 5 anos
Prefeitura diz que valor é realista e cita dificuldades para fazer privatizações
A Prefeitura de São Paulo quer investir R$ 205 milhões na construção e requalificação de corredores de ônibus na cidade, no ano de 2019. O valor é o menor proposto para um ano desde 2013, com planejamento feito na gestão Gilberto Kassab (PSD).
A previsão consta do projeto de lei orçamentária do próximo ano proposto pela gestão Bruno Covas (PSDB) à Câmara Municipal de São Paulo. O projeto deve ser ainda votado pela Câmara.
Segundo a prefeitura, o valor orçado é o mais realista diante da situação financeira. O município diz ainda que o impasse em torno da reforma da previdência dos servidores e a demora da entrada de dinheiro vindo de vendas e concessões de espaços públicos atrapalhou o investimento.
Além de ser um valor abaixo dos últimos anos, os R$ 205 milhões podem ainda diminuir, já que tradicionalmente a prefeitura acaba transferindo os recursos previstos dos corredores de ônibus para outras atividades.
Ao longo da gestão João Doria (PSDB) —que deixou a prefeitura para concorrer ao governo do Estado, em abril— e Bruno Covas, a prefeitura já tirou dinheiro dos corredores de ônibus para investir no programa Asfalto Novo, na reforma do Autódromo de Interlagos, para o GP de Fórmula 1 do Brasil e até na limpeza urbana da cidade.
Com isso, dos R$ 542 milhões previstos em 2018, foram gastos só R$ 54 milhões.
A construção de corredores de ônibus é essencial para conferir maior velocidade, frequência e atratividade a esse modelo de transporte.
Sem este tipo de construção, ônibus têm que competir espaços nas ruas e avenidas com os carros.
No plano de metas divulgado no início da gestão Doria, em 2017, a prefeitura prometia entregar 72 km de corredores até 2020, mas os projetos estão emperrados.
Segundo o projeto de lei, os corredor que receberá mais verba será o de Itaquera, na zona leste, com R$ 52 milhões para dois trechos entre o terminal de ônibus Carrão e a junção das avenidas Radial Leste e Jacu-Pêssego.
Estão ainda previstos R$ 29 milhões para a construção do corredor da avenida Aricanduva, mas isso depende da liberação de um empréstimo.
De acordo com a Prefeitura de São Paulo, a previsão de investimento abaixo dos anos anteriores se dá pelo aumento das despesas, principalmente com a previdência dos servidores. A reforma do setor está parada na Câmara Municipal desde o início do ano.
“O que está orçado para investimentos em corredores de ônibus é apenas um quarto do aumento do déficit da previdência neste ano. Se tivéssemos conseguido aprovar a reforma da previdência [municipal] teriam sobrado algumas centenas de milhões para investimentos”, diz Caio Megale, secretário municipal da Fazenda.
A gestão diz também estar mais cautelosa quanto à velocidade da entrada de recursos vindos da concessão e venda de espaços públicos. A prefeitura tem o projeto de privatizar ou conceder uma série de espaços públicos, como o autódromo de Interlagos, o Ibirapuera e o Anhembi. Os planos, porém, estão atrasados após questionamentos do Tribunal de Contas do Município e negociações com o Governo do Estado e a Câmara.
Abertura de novas estações do Metrô esvazia corredor
são paulo A abertura das estações Higienópolis-Mackenzie e Oscar Freire, da linha 4-amarela do metrô, reduziu o número de passageiros do corredor de ônibus Campo Limpo-Rebouças-Centro.
A média de usuários por dia útil na via caiu 7,4% em agosto deste ano em relação ao mesmo mês de 2017. As estações começaram a operar em janeiro e abril, respectivamente.
Segundo a SPTrans, empresa municipal sob a gestão Bruno Covas (PSDB), a queda de 30.384 passageiros por dia útil tem relação com a inauguração das estações.
Em geral, a rede de ônibus da capital perdeu 2 milhões de passageiros entre agosto de 2017 e o mesmo mês deste ano (de 257 milhões para 255 milhões ao mês).
Morador da Vila Mariana (zona sul), o funcionário público Mário Guertis, 50, antes da inauguração da estação Higienópolis tinha de pegar dois ônibus para chegar ao trabalho, no entorno da Consolação. Agora só usa o metrô.
Essa não foi a primeira vez que a linha 4-amarela tirou passageiros do corredor de ônibus. Quando suas primeiras estações foram inauguradas, em 2010, houve uma diminuição de 25 mil passageiros por dia útil transitando no corredor.
Especialistas em mobilidade urbana dizem que a Prefeitura de São Paulo precisa fazer um estudo detalhado das linhas de ônibus que passam pelo corredor e readequar itinerários, se necessário.
“O sistema precisa ser trabalhado em conjunto com a operação do metrô”, afirma o consultor Horário Figueira.