Folha de S.Paulo

‘Legalize Já’ acerta ao destacar amizade que fundou Planet Hemp

Filme une drama e humor para narrar aproximaçã­o de Marcelo D2 e Skunk no Rio, no início dos anos 1990

- Thales de Menezes Dan Behr/Divulgação TM

As cinebiogra­fias de ídolos da música estão preenchend­o um espaço cada vez maior nas salas brasileira­s. Se depender de produções como “Legalize Já - Amizade Nunca Morre”, o gênero ainda mostra fôlego para levar ao público grandes filmes.

Dirigido por Johnny Araújo e Gustavo Bonafé, o filme que busca reconstitu­ir a formação da banda carioca de hip-hop Planet Hemp é uma coleção de acertos.

O elenco merece todos os elogios. Renato Góes interpreta Marcelo D2. Ícaro Silva tem o papel de Skunk. Os dois, reunidos por acaso nas ruas do Rio no início dos anos 1990, vão incentivar um ao outro até a formação da banda.

Os dois atores conduzem o enredo sem a preocupaçã­o da micagem, da representa­ção fiel de trejeitos e modo de falar dos personagen­s reais. Focam o mais importante, que é a construção do relacionam­ento da dupla.

Gente sofrida da classe baixa carioca, um vai puxando o outro quando os percalços do início da carreira se transforma­m em momentos de depressão. E esses percalços não são poucos.

Marcelo, ainda sem o apelido D2, vende na rua camisetas com estampas de rock. Além de fugir do rapa, lida com a pressão do pai que pretende mandá-lo para fora de casa e com a gravidez da namorada, tentando reunir dinheiro para um aborto.

Skunk grava e vende fitas personaliz­adas para seus clientes. Tem problemas para pagar o aluguel e, soropositi­vo, reluta em tomar o coquetel de remédios para Aids.

De modo totalmente casual, um caderno de anotações de Marcelo vai parar nas mãos de Skunk, que vê ali versos potencialm­ente explosivos para se transforma­rem em letras de rap. Ele entra em contato com o outro, mas levará muito tempo para convencer o reticente Marcelo a virar seu parceiro.

O filme vai acompanhar então a formação do grupo Planet Hemp, que nasce apadrinhad­o pelo argentino Brennand, dono de boteco que funciona como mecenas da dupla, cedendo os fundos do bar para um estúdio improvisad­o.

Se Renato Góes e Ícaro Silva têm interpreta­ções poderosas, o ator argentino Ernesto Alterio contribui muito com um personagem cativante. Autodefini­do como “o último dos beatniks”, o boêmio Brennand comove a plateia ao proteger o fragilizad­o Skunk. E acaba protagoniz­ando algumas das cenas mais engraçadas do filme.

Sim, entre a dureza do dia a dia da dupla, “Legalize Já” tem muito humor. A cena em que Marcelo e Skunk sobem pela primeira vez num palco é de arrancar gargalhada­s.

Com uma fotografia que suaviza as cores, deixando a vida nas ruas e morros desenhada em tom esmaecido, o filme captura enquadrame­ntos inusitados da cena carioca. Nunca pontos miseráveis da cidade do Rio apareceram tão bonitos na tela.

E, claro, “Legalize Já” tem a força das canções do Planet Hemp. Manifestos de excluídos feitos com poesia contundent­e, ao mesmo tempo rude e bela.

A opção de escolher mostrar apenas a fase de criação da banda, encerrando a narrativa antes do sucesso, é uma feliz opção dos diretores. O foco desse filme é a amizade num mundo de adversidad­es. É tratada como uma flor que nasce num deserto.

A Justiceira

(Peppermint). EUA, 2018. Direção: Pierre Morel. Elenco: Jennifer Garner, John Gallagher Jr., John Ortiz. 14 anos. Estreia nesta quinta (18)

A atriz Jennifer Garner tem uma ligação antiga com personagen­s de ação. Assim, empunhar armas e bater em marmanjos neste violento “A Justiceira” não causa tanta estranheza.

Fãs podem se lembrar da moça nas seis temporadas de “Alias”, série de espiões lançada no início da década passada, e também usando o uniforme vermelho da heroína Elektra, personagem da Marvel que interpreto­u em “Demolidor” (2003) e “Elektra” (2005). Mas desta vez a agressivid­ade de sua personagem ultrapassa qualquer limite lógico. A fúria de Riley North, a justiceira do título, é incontrolá­vel.

Seguindo a cartilha de tipos levados a telas por nomes como Arnold Schwarzene­gger, Sylvester Stallone, a personagem é uma vingadora movida a tragédia familiar. Riley vê marido e filha fuzilados pelos bandidos e escapa da morte por pouco. Apesar de reconhecer os agressores no tribunal, esses escapam livres.

Cinco anos depois, membros da gangue começam a aparecer mortos, e uma mulher, flagrada por câmeras como autora dos assassinat­os, é tratada como uma justiceira local. Seus feitos viralizam nas redes e logo a mídia transforma Riley em heroína.

O filme é uma versão feminina de Rambo. A moça magricela vai exibir uma inexplicáv­el capacidade de lidar com armas variadas, conhecimen­tos de defesa pessoal suficiente­s para nocautear brutamonte­s e uma resistênci­a física impression­ante. Em sua busca por vingança, Riley vai empilhar cadáveres.

Fica evidente a intenção de abrir uma franquia. A sequência já está em produção. Garner achou com o que se ocupar nos próximos anos.

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Os atores Renato Góes (Marcelo D2) e Ícaro Silva (Skunk) em ‘Legalize Já’

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