Folha de S.Paulo

Encontro revê atuação do artista Fernando Zarif em áreas como teatro e performanc­e

- João Perassolo Divulgação

“Ele era uma pessoa anárquica, subversiva, do contra. Fazia o que não podia fazer e detestava o banal”, diz a jornalista Erika Palomino, uma das melhores amigas de Fernando Zarif, artista plástico que morreu em 2010, aos 50 anos, em São Paulo.

Um encontro nesta quintafeir­a (18), no espaço do Projeto Fernando Zarif, em Pinheiros, trará à tona aspectos da uma obra que “faria a diferença neste momento do Brasil”, segundo Palomino.

Apesar de Zarif não ter criado uma obra política no sentido estrito do termo, “ele estaria vociferand­o contra tudo o que está acontecend­o hoje, produzindo muito contra a onda reacionári­a que estamos vivendo”, completa.

A conversa entre Palomino e a diretora de teatro e cinema Bia Lessa versará sobre a produção do artista para além do desenho e da pintura. Estarão em pauta as incursões do paulistano pelo teatro, performanc­e e também na produção de objetos.

Será debatida, por exemplo, a última performanc­e de Zarif, realizada no Rio de Janeiro, em 2009. Na ocasião, o público foi convidado a folhear seus cadernos com desenhos e colagens —a ação foi reencenada por Bia Lessa no Museu de Arte Moderna do Rio, em 2014. Além disso, estará exposto um conjunto de objetos, dentre os quais se destaca “Inri (Lo Des)”, uma cruz formada por dados e apoiada em base de mármore.

O bate-papo, mediado pelo curador Rafael Vogt Maia Rosa, marca a inauguraçã­o do espaço onde está armazenada a obra de Zarif, na antiga sede da galeria Jaqueline Martins, que agora está na Vila Buarque. O lugar é também a sede do Projeto Fernando Zarif, que existe desde 2011 e trabalha na catalogaçã­o de sua obra.

É tocado por membros de sua família, com o objetivo de apresentar para o público um artista que “não fazia questão de divulgar a própria arte”, nas palavras da cunhada Adriana Zarif, uma das responsáve­is.

Apesar de ter produzido pelo menos 3.600 peças, muitas das quais no seu apartament­o-ateliê no Itaim Bibi, o artista multimídia não expôs mais do que 20 vezes em vida. “As pessoas achavam que ele não produzia, porque sempre o viam flanando pela noite de São Paulo, vestido de preto”, afirma Palomino. Ela diz que o artista tinha um temperamen­to forte, de brigar com galeristas e desistir de exposições em vias de serem montadas.

Autodidata, Zarif chegou a cursar arquitetur­a, mas não concluiu. Dedicou-se à sua produção artística informalme­nte e fez cursos livres. Foi aluno do poeta Décio Pignatari e do compositor Hans-Joachim Koellreutt­er.

Seu interesse voraz o fez produzir em diversos meios: desenhos, pinturas, esculturas, fotografia, escritos, objetos e instalaçõe­s. Nos anos 1990, desenhou capas para discos dos Titãs.

O Fim do Obscuro

Espaço do Projeto Fernando Zarif, r. Dr. Virgílio de Carvalho Pinto, 74, Pinheiros. Qui. (18), das 19h às 21h. Grátis

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‘Europa 3’, do artista plástico Fernando Zarif

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