Bolsonaro tem de entregar o ouro
Enquete mostra motivos de o mercado acreditar em planos ainda vagos de reforma liberal
Quanto Jair Bolsonaro trata de reafirma Previdência, a tese dos “direitos adquiridos”, em geral um argumento de sindicatos, corporações e de certa esquerda.
Seus planos de reforma previdenciária vivem em uma zona crepuscular que vai desde
mudança quase nenhuma até mirabolâncias ou ambições no
momento inviáveis.
No entanto, o mercado se move. Os negociantes de dinheiro declaram voto em Bolsonaro e votam também nos preços da moeda brasileira e
dos títulos da dívida pública, que sobem. Na praça financeira, é o que interessa.
Ainda que existam planos
infalíveis em elaboração, não há diretrizes firmes, prioridades e sequenciamento de mudanças econômicas, porém.
Além do mais, algumas conversas do universo bolsonarista não são liberais, mas libertinas.
O atropelo de boas normas ambientais ou sanitárias e de mínimos trabalhistas tende a ser um tiro pela culatra. Feitos a ferro e fogo, produtos agropecuários ou extrativistas
podem ser objeto de barreiras comerciais ou civilizatórias, no exterior.
Restrições a investimentos
estrangeiros, mesmo que venham da China, podem pegar mal e deixar gente lá fora com o pé atrás —e fora daqui. Mesmo pelos piores motivos, não são boas ideias.
Como então o pessoal elabora os motivos de seu otimismo
com uma reforma liberal? Este jornalista fez uma enquete.
Primeiro, o que mais se ouve é que Bolsonaro tem uma equipe grande trabalhando no programa de reformas, um governo já em obras.
Seria gente capacitada a elaborar os planos, faz tempo comprometida política e intelectualmente com mudança radical do Estado.
Além do mais, dizem que executivos reputados, vários deles de bancos, estão sendo cotados para fazer parte do governo, hipótese revelada por esta Folha.
A colaboração vai aumentar,
acreditam, baseados em conversas de bastidores ou rumores. Confirmada uma vitória de Bolsonaro, de mais economistas haveria a adesão de prestígio, de proximidade com longa com os história tucanos, por exemplo.
Segundo, Bolsonaro ainda não disse a que veio. Ainda estaria em campanha, dourando a pílula, estratégia de qualquer candidato. Como deu o sentido geral do governo, liberal em economia, não seria suspeito de estelionato eleitoral.
As grandes linhas seriam ine
quívocas, vide as declarações recentes sobre a independência do Banco Central, câmbio flutuante, meta de inflação.
Terceiro, Bolsonaro ainda
não teve tempo de bater ponto a ponto o programa com Paulo Guedes, planos que, no entanto, seriam claros, acertados com o candidato. Não deu mais detalhes também porque detalhes ainda não há (essa conversa não faz sentido no
caso de Previdência ou salário
mínimo, mas passemos).
Quarto, dizem alguns mais raros, a primeira reação de Bolsonaro à venda de joias da coroa estatal não seria tão pro
blemática quanto parece.
Privatizações de grandes em
presas são um plano complexo e demorado e, de qualquer modo, o governo vai se livrar do custo de um monte de estatais menores e ineficientes.
Quinto, quase um conjunto
vazio: dificuldades políticas
são raramente mencionadas.
De qualquer modo, o humor
no mercado teria batido em um teto provisório. A melhora seria resultado, em parte, de um monte de especulações pessimistas com o dólar (na fofoca da praça, o favoritismo petista levaria o dólar a R$ 4,50 ou R$ 5 e além, lembra?).
A partir de novembro, a festa continua apenas se Bolsonaro entregar o ouro de verdade.