Folha de S.Paulo

Olhar feminino

- Natalia Engler

Em um ano em que as produções dirigidas por mulheres (ou a ausência delas) estiveram no centro dos debates nos principais festivais de cinema do mundo, como Cannes e Veneza, a 42ª Mostra traz 83 trabalhos de diretoras em sua programaçã­o, pouco menos de um terço do total.

Entre elas estão algumas das 82 mulheres que marcharam pelo tapete vermelho de Cannes em maio, pedindo mais representa­tividade no festival e no cinema em geral. É o caso da suíça Anja Kofmel, que entra na programaçã­o com o documentár­io em animação “Chris, o Suíço”, sobre um jornalista assassinad­o durante a guerra dos Balcãs, e da marroquina Meryem Benm’Barek, vencedora do prêmio de melhor roteiro na mostra Um Certo Olhar com “Sofia” (veja na pág. ao lado).

A seleção demonstra a multiplici­dades de temas e olhares que essas mulheres de variadas origens lançam sobre o mundo. Os temas vão desde pobreza e exploração infantil (“Cafarnaum”, de Nadine Labaki, que tenta uma vaga no Oscar de filme estrangeir­o pelo Líbano e venceu o Prêmio do Júri em Cannes) a cinebiogra­fias literárias (“Poderia me Perdoar?” de Marielle Heller, cotado para figurar no Oscar ao menos na categoria de melhor atriz, com Melissa McCarthy irreconhec­ível no papel da escritora e biógrafa Lee Israel).

As produções abordam ainda a dificuldad­e de se estabelece­r intimidade (“Não me Toque”, que rendeu à romena Adina Pintilie o Urso de Ouro e o prêmio de melhor primeiro filme em Berlim), a experiênci­a de ex-soldados ingleses e argentinos que lutaram na guerra das Malvinas (“Teatro de Guerra”, de Lola Arias) e a chamada “cura gay” (“O Mau Exemplo de Cameron Post”, de Desiree Akhavan, melhor filme em Sundance, estrelado por Chloë Grace Moretz, baseado no livro de Emily M. Danforth).

A produção nacional também está bem representa­da, com títulos como “Sequestro Relâmpago”, novo filme de Tata Amaral, protagoniz­ado por Marina Ruy Barbosa —que também estrela “Todas as Canções de Amor”, estreia de Joana Mariani na ficção.

Destaques de outros festivais também aparecem na lista, como “Chuva É Cantoria na Aldeia dos Mortos”, codirigido por Renée Nader Messora e João Salaviza (prêmio do júri da mostra Um Certo Olhar em Cannes), e “Los Silencios”, de Beatriz Seigner (melhor direção no Festival de Brasília).

 ?? Fotos Divulgação ?? “Chris, o Suíço”
Fotos Divulgação “Chris, o Suíço”

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil