Folha de S.Paulo

100 anos de Bergman

- Sérgio Rizzo

A convite do Festival de Gotemburgo (Suécia), Ingmar Bergman preparou em 1994 uma lista com seus 11 filmes favoritos. O mais antigo era “A Carruagem Fantasma” (1921), de Victor Sjöström, talvez o seu número um. Havia também “O Circo”, de Chaplin, e “A Paixão de Joana d’Arc”, de Dreyer, ambos de 1928.

Marcel Carné (“Cais das Sombras”, 1938), Billy Wilder (“Crepúsculo dos Deuses”, 1950), Kurosawa (“Rashomon”, 1950), Fellini (“A Estrada da Vida”, 1954), Bo Widerberg (“O Bairro de Korpen”, 1963), Tarkóvski (“Andrei Rubliev”, 1966) e Andrzej Wajda (“Maestro”, 1980) eram os demais mestres na lista.

Falta um? Não, falta uma: a alemã Margarethe von Trotta, com “Os Anos de Chumbo” (1981). Uma deferência extraordin­ária, retribuída por ela com “Procurando por Ingmar Bergman”, uma das homenagens ao diretor sueco vindas a público em 2018 por ocasião de seu centenário de nascimento.

Bergman morreu em 2007, pouco depois de completar 89 anos. Margarethe e seu exmarido, o diretor Volker Schlöndorf­f (“O Tambor”), chegaram a recebê-lo em casa —episóAlém dio narrado no documentár­io, que também destaca a importânci­a de “O Sétimo Selo” (1957) para que ela se decidisse pelo cinema.

Apesar de recorrer aqui e ali a lembranças pessoais da cineasta, como essas, o filme — que tem o documentar­ista Felix Moeller e a montadora Bettina Böhler na codireção— privilegia uma espécie de investigaç­ão sentimenta­l em torno da obra do diretor sueco e de sua vida atribulada.

Não há nenhuma pretensão totalizant­e de “colocar ordem na casa”, armadilha na qual cai o documentár­io “Bergman - 100 Anos”, recém-exibido no Brasil. Modestamen­te, procura-se aqui chegar perto de quem foi o diretor e de sua importânci­a para o cinema. Verdadeira­mente, chega-se.

Margarethe começa e termina pela Suécia, onde se encontra com Liv Ullmann, Gunnel Lindblom e Julia Dufvenius, atrizes de Bergman, com sua assistente por três décadas, Katinka Faragó, com alguns de seus filhos, com o crítico Stig Björkman, o pesquisado­r Jan Holmberg (da Fundação Ingmar Bergman) e o diretor Ruben Östlund (“The Square: A Arte da Discórdia”).

Em outros países, ela conversa, entre outros, com o escritor e roteirista Jean-Claude Carrière, e com os diretores Carlos Saura, Olivier Assayas e Mia Hansen-Love. Em todos os depoimento­s, a memória de Bergman persiste de maneira vibrante e afetuosa, como um agradecime­nto sincero pela sua existência.

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