Documentários
“Minha Vida na Alemanha de Hitler” começa em 1939 com o projeto de alguns professores universitários norte-americanos que pedem a pessoas que deixaram a Alemanha hitlerista para que descrevam como era viver sob o regime nazista.
Esse projeto jamais estaria completo sem a intervenção do cineasta Jérôme Prieur, quase 80 anos depois. Prieur leu essas cartas, vindas de diferentes partes do mundo, que compõem por si um precioso mosaico dessa diáspora, que não compreendeu apenas judeus: boa parte dos depoimentos vem de dissidentes alemães.
Entre os judeus encontram-se narrativas mais angustiantes, claro. Entre os alemães, menos. A experiência mais estranha talvez seja a do homem que compra lugar para assistir a uma parada hitlerista; assiste e, logo depois, se enche dos desfiles, símbolos e uniformes e decide partir.
Não menos preciosa que a parte escrita é a das imagens que Prieur encontrou, sobretudo as de particulares, feitas a quente, por amadores: imagens que nem sempre dão conta do horror cotidiano, mas, até, de seu inverso. É ao promover o hábil encontro das imagens com o texto das cartas que este filme nos transmite a dimensão do horror vivido durante aqueles anos. Ao mesmo tempo, demonstra (relevante traço historiográfico contemporâneo) que nem só de nazismo e nazistas se fez a Alemanha de Hitler.