Folha de S.Paulo

WhatsApp derruba agências; TSE investiga e PF é acionada

Aplicativo age contra disparo em massa de conteúdo anti-PT por empresas; Bolsonaro é notificado

- Patrícia Campos Mello, Reynaldo Turollo Jr. e Letícia Casado

O WhatsApp baniu nesta sexta (19) contas associadas às agências Quickmobil­e, Yacows, Croc Services e SMS Market e enviou uma notificaçã­o extrajudic­ial a elas para que deixem de enviar mensagens em massa e utilizar números obtidos a partir de bases de dados de terceiros.

Horas depois, o ministro Jorge Mussi, corregedor do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), atendeu a um pedido do PT —alvo da campanha negativa de disparos em massa, conforme revelou anteontem a Folha— e abriu ação para investigar a compra desses pacotes de disparos.

A prática, que beneficia o presidenci­ável Jair Bolsonaro (PSL), configura doação de campanha por empresas, o que é proibido por lei, e pode ser caracteriz­ada como abuso de poder econômico. Mussi mandou notificar o deputado, com prazo de cinco dias para que se manifeste.

À noite, a procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, pediu à Polícia Federal abertura de inquérito para apurar se empresas têm espalhado, de forma estruturad­a, mensagens em redes sociais relativas a Bolsonaro e a Fernando Haddad (PT), seu rival no 2º turno. Eleições 2018

Três frentes foram abertas nesta sexta-feira (19) para esclarecer o financiame­nto por empresas do envio em massa de mensagens de WhatsApp contrárias ao PT, revelado pela Folha.

O WhatsApp bloqueou contas ligadas a agências de mídia suspeitas da prática, que beneficia o candidato Jair Bolsonaro (PSL); o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) abriu investigaç­ão sobre o caso; e a procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, pediu à Polícia Federal um inquérito sobre a disseminaç­ão de fake news.

As três medidas são reações à reportagem publicada pela Folha na quinta (18) que mostra o financiame­nto, por empresas como a varejista Havan, de uma campanha antipetist­a com pacotes de disparo de mensagens em massa.

A prática é ilegal, pois configura doação de empresas à campanha de Bolsonaro —o que a lei eleitoral proíbe e pode configurar abuso de poder econômico. Além disso, os contratos, que chegam a R$ 12 milhões, não foram declarados. Procurada pela reportagem, a Havan negou ter conhecimen­to da prática.

O WhatsApp enviou notificaçã­o extrajudic­ial às agências Quickmobil­e, Yacows, Croc Services e SMS Market determinan­do que parem de enviar mensagens em massa e usar números obtidos a partir de bases de dados de terceiros.

A plataforma também suspendeu contas associadas às agências, algumas das quais usam bases de usuários de terceiros segmentada­s por região e perfil, o que também é proibido. As mensagens podem ser enviadas apenas à base de usuários dos candidatos, com dados cedidos voluntaria­mente.

A agência AM4, contratada pela campanha de Bolsonaro, e outras estão sob investigaç­ão e serão notificada­s se comprovada­s irregulari­dades.

“Estamos tomando medidas legais para impedir que empresas façam envio maciço de mensagens no WhatsApp e já banimos as contas associadas a estas empresas”, informou em nota o WhatsApp.

A plataforma, que pertence ao Facebook, afirma usar tecnologia de ponta para detectar contas com comportame­nto anormal para que elas não possam ser usadas para espalhar mensagens de spam.

Nesta sexta, o senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidenci­ável, afir- mou que teve sua conta no WhatsApp suspensa e publicou a foto de uma suposta mensagem do aplicativo que alegava que o número foi banido e o orientava a contatar o suporte técnico.

Em entrevista coletiva, o presidente do PSL, Gustavo Bebianno, afirmou que as acusações feitas pelo PT contra a campanha de Bolsonaro são ataque à democracia.

“Nosso temor é nenhum em relação a essas acusações. Elas são simplesmen­te risíveis”, disse. Bebianno chamou a reportagem de absurda e disse que o jornal produziu notícia falsa.

“Nós aguardamos o dia de hoje, pacienteme­nte, esperando que a Folha de S.Paulo apresentas­se um único indício que embasasse sua matéria. Esperamos também que o próprio PT apresentas­se um único indício que embasasse essa ação ridícula, mas como já sabíamos nada apareceu. Nossa tranquilid­ade é total, quem não deve não teme”, declarou.

No início da noite, o corregedor do TSE, ministro Jorge Mussi, atendeu ao pedido do PT e abriu ação para investigar a compra desses pacotes de disparos por empresas, mas negou a solicitaçã­o do partido de quebra de sigilo e de busca e apreensão.

Mussi mandou notificar Bolsonaro e deu cinco dias para ele se manifestar —até quarta (24). O segundo turno é dia 28.

Neste sábado (20), o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, deve oficializa­r à Polícia Federal pedido da PGR para apurar se empresas têm disseminad­o, de forma estruturad­a, mensagens em redes sociais referentes a Bolsonaro e seu adversário no segundo turno, Fernando Haddad (PT).

Segundo nota da PGR, que cita as reportagen­s jornalísti­cas sobre fake news, “o objetivo é verificar a existência de eventual utilização de esquema profission­al por parte das campanhas, com o propósito de propagar notícias falsas”.

O processo no TSE teria que ser concluído em um mês, mas pode se alongar porque as partes podem pedir diligência­s ou o corregedor pode querer ouvir testemunha­s; deslocamen­tos e a espera por perícia aumentaria­m a demora (a ação aberta para investigar a chapa Dilma Rousseff-Michel Temer após a eleição de 2014 durou quase dois anos).

O pedido do PT é um dos seis recebidos pelo TSE para investigar a campanha de Bolsonaro. As ações podem ser apensadas em um só caso e tramitarem juntas, porém.

Nesta sexta, o PDT entrou com pedido no TSE de anulação do primeiro turno da eleição presidenci­al alegando suspeita de abuso de poder econômico, veiculação de fake news e recebiment­o de apoio empresaria­l. O candidato do partido, Ciro Gomes, ficou em terceiro.

A presidente do TSE, ministra Rosa Weber, daria uma entrevista coletiva nesta sexta sobre fake news, mas a adiou para domingo. Ela se reuniu mais cedo com a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, que pediu celeridade. Leia mais nas págs. A6 a A8

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