Arábia Saudita confirma morte de repórter na Turquia
Procurador diz que Jamal Khashoggi morreu após briga e que reino demitiu oficial de inteligência
A Arábia Saudita confirmou a morte do jornalista Jamal Khashoggi. Segundo procurador do reino, o dissidente morreu numa briga dentro do consulado do país em Istambul, no início do mês, e 18 envolvidos foram presos.
A Arábia Saudita confirmou a morte do jornalista Jamal Khashoggi, desaparecido desde que entrou no consulado de seu país em Istambul no início deste mês, e informou que demitiu dois funcionários e prendeu 18 pessoas ligadas ao caso.
Segundo comunicado do procurador-geral do reino, divulgado pela mídia estatal, resultados preliminares da investigação mostram que o jornalista está morto.
A versão do governo é que uma briga entre Khashoggi e pessoas que ele encontrou no consulado levou à sua morte.
“As discussões entre Jamal Khashoggi e aqueles com quem ele se reuniu no consulado do reino em Istambul degeneraram para uma briga corporal, levando à sua morte”, informou a agência de notícias saudita (SPA).
O procurador saudita disse que, no âmbito da investigação, o conselheiro da corte real Saud al-Qahtani e o vicechefe de inteligência Ahmed Asiri foram demitidos.
Também foi informado que o rei Salman ordenou a criação de um comitê ministerial, chefiado pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, para reestruturar a agência de inteligência do país.
Em comunicado, a Casa Branca afirmou que vai continuar “seguindo de perto as investigações internacionais sobre o trágico incidente” e pedir por justiça.
O presidente Donald Trump disse a jornalistas que a explicação do procurador saudita para o caso é “crível” e que o anúncio foi um “bom primeiro passo”. Trump afirmou que não acredita que a Coroa saudita tenha mentido para ele e que não pretende cancelar vendas de armas ao aliado.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, disse que está “profundamente preocupado” com a confirmação da morte de Khashoggi e pediu uma investigação “rápida, meticulosa e transparente”.
Jamal Khashoggi, proeminente crítico do regime saudita e colaborador do Washington Post, foi ao consulado de Istambul no dia 2 de outubro para resolver questões burocráticas e nunca mais foi visto. A Turquia acusou Riad pelo crimes, mas as autoridades sauditas negam.
A imprensa turca afirma que teve acesso a áudios nos quais os assassinos de Khashoggi o torturam antes de esquartejá-lo, dentro do consulado e na presença do cônsul-geral.
A polícia da Turquia também informou que 15 agentes da inteligência saudita haviam entrado e deixado Istambul no dia 2 de outubro que estiveram no consulado no mesmo momento que o jornalista.
Nesta sexta, investigadores realizam uma operação de busca em uma floresta de Istambul e em uma zona rural próxima à cidade.
Eles afirmaram ter obtido “muitas amostras” das buscas no consulado e na residência do cônsul-geral saudita e dizem que vão tentar identificar traços do DNA de Khashoggi.
Na noite de quinta-feira (18), o presidente dos EUA, Donald Trump, havia afirmado que “certamente parece” que o jornalista está morto e que a Arábia Saudita terá de sofrer “severas” consequências se isso for confirmado.
A fala de Trump aconteceu após ele se encontrar com o secretário de Estado, Mike Pompeo, que acabou de voltar de viagem a Riad, onde se reuniu com autoridades sauditas para tratar do assunto.
Trump tem sido acusado de não condenar o desaparecimento do jornalista de forma incisiva e de manter uma postura benevolente em relação aos aliados árabes.
Na terça (16), a Arábia Saudita transferiu para contas do governo dos EUA US$ 100 milhões (R$ 369 milhões), informou a imprensa dos EUA.
O dinheiro havia sido prometido ao governo Trump como contribuição aos esforços americanos de estabilizar áreas da Síria liberadas do grupo terrorista Estado Islâmico.
Khashoggi, ex-editor de jornal e consultor do ex-chefe de inteligência de seu país, deixou seu país em 2017 dizendo temer uma retaliação por suas crescentes críticas à política saudita na guerra do Iêmen e à repressão às divergências.
Riad promove uma campanha de modernização desde que o príncipe Mohamed bin Salman foi designado herdeiro ao trono, em 2017. Mas a repressão aos dissidentes se acentuou desde então.
Khashoggi, que faria 60 anos no último dia 13, é um dos poucos jornalistas que têm criticado esta repressão.