Folha de S.Paulo

Clubes dispensam marcas e lucram com fabricação própria de camisa

Iniciativa que começou com o Paysandu em 2016 virou referência para times pequenos e médios

- Bruno Rodrigues e Luiz Cosenzo Fotos Jarbas Oliveira/Folhapress

Quando o Paysandu decidiu lançar uma marca própria de material esportivo, em 2016, o futebol brasileiro tinha dúvidas sobre a viabilidad­e e o sucesso da empreitada. Hoje, o clube é referência para equipes que optam por seguir o mesmo caminho.

Nesse modelo também estão Coritiba, CSA, Juventude, Santa Cruz, Fortaleza, Sampaio Corrêa, Joinville e, mais recentemen­te, o Bahia, que decidiram se desvincula­r de empresas tradiciona­is do setor para iniciar um processo de fabricação independen­te.

“Em 2015, recebemos R$ 472 mil de royalties [pela venda de uniformes]. No ano seguinte, tivemos um lucro líquido de R$ 3 milhões”, diz o ex-presidente do Paysandu, Alberto Maia, pioneiro na iniciativa e atualmente dono de uma empresa que presta consultori­a aos clubes interessad­os em gerir sua própria marca.

Junto a ele está a empresa Bomache, fabricante de material esportivo com quem alguns desses clubes negociam o licenciame­nto de marcas para a produção de camisas e demais artigos que serão vendidos no mercado.

“Quem tem que ganhar dinheiro com o uniforme é o clube, não uma marca esportiva. Mostramos para os clubes que eles têm de virar um balcão de negócios. A marca é um ativo que o clube tem”, diz Alexandre Dalla, diretor comercial da Bomache.

Alberto Maia conta que a ideia de desvincula­r o Paysandu de uma grande marca surgiu após atritos com a empresa que fabricava o uniforme da equipe para a Puma.

“Eles não aceitaram fazer uma alteração contratual e, a partir daí, iniciamos o projeto da marca própria, que virou a marca Lobo”, afirma.

O último a adotar essa estratégia foi o Bahia. Com sua marca Esquadrão, lançada no início do mês, a diretoria espera ter um faturament­o três vezes maior com a venda de camisas. Em 2017, o clube arrecadou cerca de R$ 800 mil com o antigo fornecedor.

“Estamos esperando, entre loja própria, loja online e royalties, sair de quase R$ 800 mil por ano para R$ 4 milhões”, diz o presidente da equipe baiana, Guilherme Bellintani.

Dois meses antes, o Coritiba, que tinha lançado a mar- ca 1909, já celebrava o aumento no faturament­o com a gestão independen­te da marca.

O contrato anterior, com a Adidas, rendeu em dois anos apenas R$ 200 mil para o clube, enquanto o faturament­o da empresa chegou a R$ 6 milhões. Com a nova marca, só nas primeiras três semanas, os cofres da equipe receberam mais de R$ 360 mil, de acordo com o time paranaense.

O aumento no lucro foi alcançado mesmo com uma redução no preço dos uniformes. Antes, cada camisa custava R$ 249. Hoje, o preço estáemR$229esócios­doclube ainda recebem desconto.

“Muitas demandas dos torcedores foram atendidas, desde detalhes estéticos [desenho da camisa, gola e manga] até linhas femininas e infantis, que antes não existiam”, diz o presidente do Coritiba, Samir Namur.

A liberdade para desenvolve­r camisas comemorati­vas e a possibilid­ade de ter um controle maior sobre a produção foram os principais motivos que levaram o Juventude a também optar pela produção independen­te.

“Com a marca própria, conseguimo­s fazer camisas comemorati­vas em três semanas”, diz Matheus Antunes, diretor de negócios do clube, citando a camisa lançada neste mês em alusão ao Outubro Rosa, movimento de luta contra o câncer de mama.

A Folha entrou em contato com Adidas e Puma, citadas por Coritiba e Paysandu, respectiva­mente, mas elas não quiseram se pronunciar.

Os clubes pequenos e médios podem comemorar os ganhos com venda de camisas, mas os valores com que eles trabalham ainda são muito inferiores na comparação com os principais times do país, que conseguem grandes valores em contratos com multinacio­nais do setor de materiais esportivos.

O São Paulo, por exemplo, assinou com a Adidas por cinco anos e meio um contrato de cerca de R$ 15 milhões anuais, além de receber 26% de royalties por produto vendido. Há também bônus por títulos.

O Palmeiras vestirá Puma a partir de 2019, em vínculo que vai até o fim de 2021. Estima-se que o contrato renderá R$ 25 milhões ao ano.

Já o Corinthian­s, cujo material esportivo é fornecido pela Nike desde 2003, renovou com a empresa até 2029. Só de luvas, a assinatura do novo contrato rendeu R$ 25 milhões. O valor anual da parceria com a Nike pagava, até a última renovação, aproximada­mente R$ 30 milhões anuais.

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Produção de camisas esportivas na fábrica da Bomache, em Fortaleza

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