Folha de S.Paulo

Em Fortaleza, reduto de Ciro Gomes, presidenci­ável do PSL supera Haddad

- Marcel Rizzo

fortaleza O Colégio Salesiano Dom Bosco, no bairro Joaquim Távora, de classe média alta em Fortaleza, recebeu 13 seções da 80ª zona eleitoral da cidade no primeiro turno, em 7 de outubro.

Ciro Gomes (PDT) venceu por ali entre os presidenci­áveis, com pouco mais de 400 votos de vantagem para Jair Bolsonaro (PSL), segundo colocado. Fernando Haddad (PT), que teve votação expressiva no Nordeste, conseguiu menos da metade dos votos de Bolsonaro naquela escola, o que foi a regra na capital.

Se o Ceará, com o fator Ciro Gomes, foi terreno hostil para Bolsonaro se dividindo entre o seu ex-governador e o candidato petista alavancado por Lula, Fortaleza se mostrou mais receptiva a ele.

Bolsonaro teve 34,3% dos votos na capital cearense, ficando atrás de Ciro (40,1%), mas à frente de Haddad (19,3%).

Em uma das zonas eleitorais da cidade, Bolsonaro conseguiu bater Ciro, que além de governador foi prefeito de Fortaleza no fim dos anos 1980 e início dos 1990.

A 3ª zona eleitoral acompanha o perfil nacional do eleitorado de Bolsonaro: englobando os bairros de classe alta de Aldeota, Meireles e Praia de Iracema, entre outros, é formado por pessoas com maior escolarida­de e renda. Em outros dois setores com o mesmo perfil ele teve diferença pequena para Ciro e grande vantagem sobre Haddad.

“O Bolsonaro ganha em Fortaleza [do Haddad] pelo perfil do eleitor. Em outras localidade­s, porém, não vejo tão natural a transferên­cia de votos do Ciro. Ele foi uma terceira via e acho que muitos podem optar pelo branco e nulo”, disse Paula Vieira, cientista política do Lepem, Laboratóri­o de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia da UFC (Universida­de Federal do Ceará).

A 500 metros do Dom Bosco, seguindo à frente na mesma avenida, o PSL inaugurou na terça (16) o comitê de Jair Bolsonaro em Fortaleza. Pode parecer estranho abrir o espaço a menos de duas semanas do fim da campanha, mas no primeiro turno a estrutura do partido na cidade —e no estado— era pequena.

Ela se resumia ao escritório de Heitor Freire, empresário que preside o PSL no Ceará e que se elegeu deputado federal na esteira do sucesso do presidenci­ável —em 2014 ele tentou, sem sucesso, uma cadeira como vereador em Fortaleza pelo PSC.

Ele afirmou que ganhou apoio de membros de partidos que no primeiro turno estavam em coligações diferentes, como o PSDB, e até do Pros, que ainda faz parte da coligação nacional do PT.

“E temos um novo cabo eleitoral, Cid Gomes”, ironizou Freire. Na segunda (15), em ato político pró-Haddad em um hotel de luxo de Fortaleza, o senador eleito irmão de Ciro Gomes criticou o PT, cobrou desculpas e disse que o partido vai perder a eleição por não ter feito um mea-culpa.

Haddad perdeu de Bolsonaro em todas as zonas eleitorais de Fortaleza. Seu melhor desempenho ocorreu em áreas mais pobres, em bairros como Conjunto Palmeiras e Barroso, dois dos que têm os menores IDH (Índice de Desenvolvi­mento Humano) da cidade.

O Conjunto Barroso é próximo do local onde ocorreu a maior chacina da história do Ceará, em janeiro de 2018, quando 14 morreram após ataque de facção criminosa.

As cinco maiores cidades do Ceará, incluindo Fortaleza, receberam auxílio de forças federais para segurança no primeiro turno após pedido da Procurador­ia Eleitoral do Ceará. Investigaç­ão do Ministério Público indicou que integrante­s de facções intimidara­m moradores na periferia a não votar em candidatos ligados à polícia ou militares.

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