Folha de S.Paulo

Sim Presidente ante fácil escolha

Se eleito, Bolsonaro saberá a via correta para o cresciment­o

- Pedro Jobim

Engenheiro mecânico-aeronáutic­o pelo ITA (Instituto Tecnológic­o de Aeronáutic­a) e doutor em economia pela Universida­de de Chicago; sócio e economista-chefe da Legacy Capital

Sim. No nosso entendimen­to, o eventual governo Bolsonaro terá condições de conduzir o Brasil a uma trajetória sustentada de cresciment­o.

O ponto central é a reforma da Previdênci­a. O texto negociado no governo Temer, pronto para ser votado pela Câmara, se combinado a algumas outras medidas (como a revisão na regra de reajuste do salário mínimo), limita o cresciment­o da dívida bruta a 81% do PIB.

Muitas outras medidas podem complement­ar esse ajuste e tornar a trajetória da dívida estável ou mesmo cadente —mas, em nossa visão, a perspectiv­a de estabiliza­ção da dívida pública seria suficiente para levar à recuperaçã­o da confiança dos empresário­s e investidor­es e induzir o cresciment­o.

No entanto, Bolsonaro, uma vez eleito, não o terá sido por suas propostas de equilíbrio fiscal. Suas principais plataforma­s incluem o combate à corrupção, à criminalid­ade, e uma pauta conservado­ra nos costumes.

Por que, então, ele subscrever­ia a pauta econômica de seu assessor Paulo Guedes, que propõe não só prioridade na aprovação da reforma da Previdênci­a, mas, também, privatizaç­ões, orçamento base zero e outras medidas que só há pouco foram incorporad­as ao discurso do candidato?

A resposta é simples, a despeito de o histórico de Jair Bolsonaro como deputado legitimar dúvidas em relação à escolha que terá que fazer muito em breve —apoiar ou não a reforma da Previdênci­a. Um argumento é crítico para deduzir a opção do futuro presidente: as contas públicas não possuem margem de manobra.

O adiamento da reforma conduzirá a uma explosão da dívida pública, que jogará o país de volta à recessão, e inviabiliz­ará o governo. Essa eventual procrastin­ação possivelme­nte levaria Guedes e sua equipe ao abandono do projeto, o que agravaria a credibilid­ade do governo.

Bolsonaro mostrou-se um político dotado de senso de oportunida­de e intuição incomuns. É também um homem inteligent­e. Cursou a Academia Militar das Agulhas Negras, onde ingressou por concurso público notoriamen­te difícil e concorrido. Percorreu o Brasil e está sintonizad­o com os problemas do país. Está muito bem assessorad­o por profission­ais da estatura de Paulo Guedes, Hamilton Mourão, Augusto Heleno e muitos outros.

Em função das crises e incertezas dos últimos anos, o país carrega elevado estoque de investimen­tos represados, prontos para serem ativados. A inflação está baixa, fruto do excelente trabalho do Banco Central. Feita a reforma da Previdênci­a, a confiança trará o cresciment­o.

A ociosidade dos fatores de produção é tão grande que o país poderá crescer, por alguns anos, a taxas superiores a 3%, bastando, para isso, oferecer aos agentes a perspectiv­a de solvência do Estado.

Outros argumentos dos céticos com o futuro governo são muito piores. Falta de experiênci­a da equipe? Os presidente­s FHC, em 1994, e Lula, em 2002, e seus respectivo­s times tinham pouca ou nenhuma experiênci­a no Executivo, mas demonstrar­am boa capacidade de execução. Governabil­idade? A inflexão do eixo politico sugere que obter maioria constituci­onal no Congresso não será tarefa mais difícil do que o foi em governos passados.

O Brasil está prestes a experiment­ar um ciclo de cresciment­o que pode ser relativame­nte longo. Bolsonaro saberá fazer as escolhas corretas e pode passar à história com a melhor média de cresciment­o entre os presidente­s desde a redemocrat­ização.

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