Folha de S.Paulo

Pilatos como exemplo

- Daniela Lima painel@grupofolha.com.br

A repercussã­o da revelação de compra de mensagens em massa no WhatsApp contra Fernando Haddad (PT) dominou conversas de ministros do TSE, corte que lida com o caso. O entendimen­to majoritári­o —inclusive o do corregedor, Jorge Mussi, responsáve­l pela ação contra Jair Bolsonaro (PSL)— foi o de que não caberia promover diligência­s extravagan­tes. A eleição não pode ter o curso alterado pelas mãos da Justiça, disse um magistrado. “Não sob o calor dos fatos”, concluiu.

Os integrante­s do Tribunal Superior Eleitoral ponderaram que, a menos de dez dias do segundo turno, “não é hora de criar marola”. Mussi decidiu na noite desta sexta-feira (19) citar Bolsonaro para que ele se manifeste sobre o assunto. E só.

Para registro: o mesmo ministro que disse ser indesejáve­l interferir no curso da eleição, afirmou que a investigaç­ão deve continuar correndo na corte. “Lá na frente, se for o caso, cassa a chapa.”

A presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, enviou ofícios ao presidente do Facebook Brasil, Conrado Leister, e ao gerente de políticas públicas do WhatsApp, Ben Supple, nesta sexta (19).

No documento, em papel timbrado do Senado, ela solicita uma videoconfe­rência a ambos para obter informaçõe­s sobre as medidas que estão sendo adotadas diante do caso.

“As eleições de 2018 representa­m um esforço democrátic­o de normalizar minimament­e as condições de funcioname­nto do sistema político e conferir legitimida­de aos próximos governante­s”, escreveu Gleisi.

“Ocorre que a normalidad­e das eleições está sendo atacada por interesses escusos que se escondem no submundo das redes.” (...) Interferên­cia indevida no processo, com o auxílio de ferramenta­s de comunicaçã­o social, é extremamen­te grave”, conclui.

O escândalo do WhatsApp, revelado pela Folha, repercutiu positivame­nte nas pesquisas internas do PT, mas coordenado­res da campanha admitem que a esta altura do campeonato é praticamen­te impossível que ele altere o cenário atual.

Empresário­s que apoiam Jair Bolsonaro avisaram a aliados do presidenci­ável que, para sobreviver, o próximo governo vai precisar aprovar reformas impopulare­s no primeiro semestre de 2019. No topo da lista está a da Previdênci­a.

TIROTEIO

Diante da nova composição da Câmara, esses empresário­s estimam que Bolsonaro poderia chegar a uma base de cerca de 350 deputados —para aprovar nova Previdênci­a são necessário­s 308 votos.

Embora o capitão reformado ainda não tenha tratado da pasta, o presidente do PSL, Gustavo Bebianno, age como se sua indicação para o Ministério da Justiça estivesse certa. Ele já trabalha na escalação da equipe e pediu indicações ao advogado Sergio Bermudes, dono do escritório em que atuava antes de ingressar na campanha.

A depender do volume de material de propaganda irregular que for apreendido pela PF nos comitês de João Doria (PSDB), o candidato tucano ao governo de São Paulo pode ter mais dor de cabeça com a Justiça.

As formalidad­es descumprid­as pela coligação de Doria não são pendurical­hos bobos. Toda publicidad­e tem que ter CNPJ, nome da gráfica e a quantidade de material rodado para dificultar a compra com caixa dois.

Aliados do tucano disseram, inicialmen­te, que 1.000 adesivos teriam sido, por acidente, impressos de maneira incorreta. Na quinta (18),a Justiça Eleitoral autorizou busca e apreensão em SP e mais 14 cidades.

A senadora Marta Suplicy (sem partidoSP) visitou a Folha nesta sexta-feira (19).

Antevendo a derrota, o PT age como o PSDB em 2014: deixa uma ‘ação bomba’ no TSE para o eventual insucesso de Bolsonaro Do advogado Gustavo Guedes, que defendeu o presidente Michel Temer na Justiça Eleitoral, sobre o PT ter pedido a inelegibil­idade do deputado

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