Folha de S.Paulo

Replicar grupos de WhatsApp é arma de Bolsonaro

Apoiadores do candidato são convidados a administra­r novos grupos no aplicativo, para atingir o maior número de eleitores

- Debora Sögur Hous e Paulo Passos

são paulo “Entre nessa corrente para chegarmos a todos os cantos do Brasil”, diz o texto da mensagem enviada por WhatsApp de apoiadores de Jair Bolsonaro. O convite é para quem já está num grupo a favor do candidato do PSL e sugere que ele entre em outro, também com propaganda do candidato à Presidênci­a da República.

A tática de replicar grupos e, consequent­emente, atingir o maior número de usuários do WhatsApp é uma das armas da campanha do capitão reformado, que lidera as pesquisas de intenção de votos — com 59% dos votos válidos, segundo o Datafolha— para a Presidênci­a da República.

Não há irregulari­dade se a ação for de forma voluntária sem pagamento ou contrataçã­o de agências. Na quintafeir­a (18), a Folha revelou que empresas estão comprando pacotes de disparos em massa de mensagens contra o PT no WhatsApp. A prática é ilegal, pois se trata de doação de campanha por empresas, vedada pela legislação eleitoral, e não declarada.

A Folha acompanhou na última semana 123 grupos abertos de apoiadores de Bolsonaro no aplicativo de troca de mensagens. A estratégia de replicar conteúdo de apoio ao candidato do PSL e contrário à candidatur­a de Fernando Haddad (PT) segue um padrão comum.

Dentro de grupos já criados, os usuários são convidados para outros. Um mesmo número de celular, do Rio de Janeiro, aparece como criador de grupos de WhatsApp para eleitores de Bolsonaro em cada estado.

A Folha tentou entrar em contato com o número criador, mas ninguém atendeu às chamadas. Voluntário­s assumem a administra­ção do grupo. Até 256 pessoas podem estar recebendo as mensagens, limite imposto pela empresa do aplicativo de troca de mensagens.

“Me convidaram e aceitei ser administra­dor”, diz José Raimundo, 43, que cuida de um grupo criado para eleitores paulistas do capitão reformado. “A gente sofreu um ataque de um grupo de esquerda. Um entrou e começou a mandar imagens pornográfi­cas para nos prejudicar”.

Eleitor convicto de Bolsonaro, Raimundo diz que sua função é cuidar e expulsar quem entrar para “criar confusão” no grupo. Afirma também que controla a divulgação de fake news. “Nunca vi aqui”, diz.

No grupo, o vídeo em que Fernando Haddad (PT) sai de uma Ferrrari foi compartilh­ado. Uma mensagem enviada diz que o carro seria do ex-prefeito de São Paulo, o que não é verdade. A imagem é de 2016 e foi feita na inauguraçã­o do autódromo de Interlagos.

Uma montagem com uma imagem de Dilma Rousseff criança com o ditador cubano Fidel Castro (1926-2016) também foi repassada.

Panfletos favoráveis a Bolsonaro se misturam com fake news e links de reportagen­s críticas ao PT. Brotam vídeos que prometem a verdade

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