Folha de S.Paulo

Especialis­tas debatem regulação do uso de robôs e aplicativo­s nas eleições

- Úrsula Passos

Em debate realizado nesta sexta (19), na faculdade de direito da FGV (Fundação Getulio Vargas), especialis­tas discutiram as consequênc­ias do caso revelado pela Folha na quinta (18) de compra de disparos de mensagens no WhatsApp para atacar o PT.

Dinheiro de pessoa jurídica na campanha e caixa dois configuran­do abuso de poder econômico, possibilid­ade de cassação da chapa na corrida eleitoral e a promessa fracassada do TSE de que combateria as fake news foram os temas discutidos por sete especialis­tas.

Participar­am do encontro os professore­s de direito da instituiçã­o Eloísa Machado, Luciana Ramos, Catarina Barbieri e Alexandre Pacheco, além do advogado Fernando Neisser, o procurador da República Yuri Luz e Diogo Rais, professor de direito eleitoral do Mackenzie e colunista da Folha.

A mediação foi da jornalista Maria Cristina Fernandes, do Valor Econômico.

Para Neisser, o maior erro do TSE foi a ingenuidad­e sobre assunto e que levou à tentativa de acalmar a sociedade dizendo que combateria as fake news nesta eleição.

Para tanto, foram feitos acordos assinados por diversas partes, mas que não incluíam, por exemplo, as empresas responsáve­is por disparos de mensagens em massa.

“Cada vez mais discutimos política na internet e vemos uma campanha silenciosa nas redes há pelo menos três anos”, diz Rais.

Porém, essas foram as primeiras eleições nas quais questões de tecnologia como a dos robôs de perfis artificiai­s apareceram com tamanha importânci­a.

Assim como as discussões na sociedade, questionou-se o que o TSE poderia ter feito de diferente e se regulações poderiam ter sido implementa­das consideran­do as experiênci­as das eleições nos Estados Unidos.

“A meu ver, não havia o que o TSE pudesse ter feito de diferente. O WhatsApp, consideran­do sua regulação atual bastante liberal no país, é incontrolá­vel do ponto de vista eleitoral”, disse Neisser.

O conhecimen­to sobre os robôs replicante­s em massa de conteúdo, os perfis artificiai­s, ou “bots”, porém, ainda é restrito. Falta, segundo os especialis­tas, que essa discussão chegue aos reguladore­s.

“As questões de direito e tecnologia estão sendo discutidas nas universida­des, mas não chegam às altas instâncias”, disse Luz.

Pacheco lembrou que, segundo estudos, embora acredite-se que apenas 0,5% dos perfis do Twitter possam ser robôs, eles são responsáve­is por 10 a 20% das interações na rede social.

“O registro de bots não seria melhor do que passar a atribuir responsabi­lidade às plataforma­s?”, diz Pacheco, citando os pedidos à justiça do PT e do PSOL de intervençã­o imediata no aplicativo. “Hoje é o WhatsApp e amanhã pode ser outra ferramenta.”

“Se restringim­os um aplicativo hoje para evitar fake news, no futuro essa restrição pode servir como mecanismo de controle”, lembra Luz.

O que se conclui, porém, é que nada definitivo acontecerá em breve, mas que é urgente a discussão do tema para as eleições de 2020.

“Uma solução rápida como as pessoas nas redes sociais estão levantando é absolutame­nte fantasiosa”, diz Neisser, para quem não é plausível que haja uma resposta da Justiça Eleitoral sobre cassação de Bolsonaro em 2018.

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