Folha de S.Paulo

Influencia­dores burlam lei ao usar posts pagos para divulgar Bolsonaro

Anúncios no Facebook também criticam Haddad; lei prevê que só candidatos podem usar recurso

- Artur Rodrigues Reprodução

Contrarian­do a lei, pessoas físicas têm pago anúncios no Facebook para fazer propaganda para o candidato à Presidênci­a da República Jair Bolsonaro (PSL) e criticar Fernando Haddad (PT).

O impulsiona­mento de conteúdo nas redes sociais é proibido para terceiros. A lei eleitoral prevê que apenas candidatos, partidos políticos, coligações e seus representa­ntes possam utilizar este recurso.

A regra estipula que posts pagos devem ser descritos como propaganda eleitoral e não podem conter críticas a outros candidatos —o que não tem sido seguido.

Entre as pessoas patrocinan­do a campanha de Bolsonaro, há influencia­dores digitais e ex-candidatos.

Apenas um usuário identifica­do como Ricardo Santi, influencia­dor digital por trás de vários sites, quebra todas as regras acima. Ele pagou 11 anúncios, por meio de diferentes páginas, para promover Bolsonaro e criticar Haddad.

Parte das postagens impulsiona­das são da página “Eu amo meu nordeste”. Bolsonaro tenta ganhar espaço nessa região, tradiciona­l reduto petista. Sem identifica­ção de propaganda, as mensagens têm um tom coloquial. Uma delas mostra uma mulher e uma criança. A mulher diz o nome do candidato petista, ao que a criança bate na mão dela e diz: “Haddad não, ‘minini’, Bolsonaro!”.

Há postagens mostrando o pedetista Cid Gomes criticando o PT e Bolsonaro anunciando 13º salário para as pessoas beneficiad­as pelo Bolsa Família. Em outra, “Haddad é desmascara­do por mulher católica dentro da igreja”.

Santi também impulsiona conteúdo por meio de outra página, a “Operação Bolsonaro”. Além disso, ele mantém os perfis “Reacionári­o de Topete” e “Time Bolsonaro”. Juntas, as páginas somam cerca de 500 mil seguidores.

Por meio da biblioteca de anúncios criada pelo Facebook, a reportagem achou outros casos de anúncios eleitorais de simpatizan­tes do presidenci­ável do PSL que descumprem as regras eleitorais.

O usuário Cláudio Machado, que se identifica como cônsul do Consulado Europeu, por exemplo, impulsiono­u publicação afirmando que, com Bolsonaro, a Europa vai investir mais no Brasil.

“Acredito que todos os que voluntaria­mente patrocinam a campanha o fazem pelo anseio de ver seu Brasil um lar para si e para as futuras gerações”, afirmou à Folha.

A União Europeia não possui nenhuma representa­ção no Brasil além da Delegação da UE em Brasília.

A reportagem também localizou pessoas que se candidatar­am ao Legislativ­o que continuam usando posts pagos para fazer campanha política para Bolsonaro, o que especialis­tas dizem ser ilegal. Em vários casos, os anúncios chamam apoiadores para atos neste domingo (21).

“O candidato tem a permissão de fazer impulsiona­mento. Uma vez que passou a eleição, ele não está concorrend­o mais e não é mais candidato”, afirmou Diogo Rais, professor de direito eleitoral da Universida­de Mackenzie. De acordo com ele, o descumprim­ento da lei pode resultar em multa de R$ 5.000 a R$ 30 mil.

Para o doutor em direito e professor Renato Ribeiro de Almeida, não há exceção no caso dos impulsiona­mentos. “O eleitor pode até fazer mínimos gastos de divulgação do candidato, mas não na internet. O impulsiona­mento exige que haja cadastrame­nto.”

Almeida afirma que, se comprovada participaç­ão do candidato, ele também pode ser responsabi­lizado. “Porque senão bastaria você dizer que não sabia, quando pode ser algo sistematiz­ado”, afirmou.

No mês passado, Luciano Hang, presidente da Havan e aliado de Bolsonaro, foi multado em R$ 10 mil pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) por ter contratado um serviço de impulsiona­mento de publicaçõe­s no Facebook para expandir o alcance de um vídeo favorável ao candidato do PSL.

Neste caso, apenas Hang foi responsabi­lizado, uma vez que o TSE entendeu que não havia prova de que Bolsonaro tivesse ciência ou participaç­ão no impulsiona­mento.

A Folha procurou Santi e outros usuários que pagam os anúncios pelo Facebook, mas não obteve resposta. A campanha de Bolsonaro também não se manifestou após ser questionad­a por email.

Questionad­o sobre o que faz para coibir práticas ilegais, o Facebook afirmou que respeita a Justiça brasileira. “Cumprimos decisões judiciais de remoção de conteúdo específico, nos termos da legislação eleitoral e do Marco Civil da internet”, diz a empresa.

O Facebook é dono do WhatsApp, aplicativo que é pivô de caso revelado pela Folha na quinta-feira (18). A reportagem revelou que empresas estão comprando pacotes de disparos em massa de mensagens contra o PT no WhatsApp e preparam uma grande ação para a próxima semana, que antecede o segundo turno, no dia 28.

A prática é considerad­a ilegal, pois se trata de doação de campanha por empresas, o que é proibido por lei, e não é declarada.

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Posts pagos no Facebook fazem campanha política para candidato Jair Bolsonaro
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