Folha de S.Paulo

Candidato a deputado foi barrado na eleição por foto com braço cruzado

Justiça Eleitoral de SP anulou votos por avaliar que fotografia enviada por empresário feria normas

- Rogério Gentile

Em tempos de Lava Jato e ficha limpa, o empresário João Thomaz (PSDB) teve sua candidatur­a a deputado estadual barrada por um motivo absolutame­nte prosaico: a sua própria fotografia.

A Justiça Eleitoral de São Paulo considerou que a foto enviada pelo candidato, na qual aparece com os braços cruzados e levemente inclinado para a esquerda, estava em desacordo com as normas de uma resolução do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

A imagem a ser exibida na urna eletrônica, pela regra, tem de ser recente e frontal. Precisa mostrar o busto do candidato, que deve utilizar trajes “adequados” e “sem adornos”, especialme­nte os que possam conotar propaganda eleitoral.

A resolução estabelece ainda que o retrato não pode induzir ou dificultar o reconhecim­ento pelo eleitor.

Thomaz diz considerar que a fotografia não afronta a norma e menciona o fato de que a mesma imagem foi utilizada na eleição de 2016, quando disputou uma vaga na Câmara Municipal de Guarulhos (Grande São Paulo).

A única diferença é o corte utilizado na fotografia, que limou os braços cruzados. Mas a inclinação, considerad­a irregular agora, era idêntica.

À época, a candidatur­a foi deferida normalment­e. Thomaz não foi eleito, mas ficou como suplente e chegou a assumir o cargo por 15 dias.

“Sou ficha limpa, mandei a mesma imagem na eleição passada”, afirma o empresário. “Não havia como confundir ou prejudicar a identifica­ção pelo eleitor”, diz.

Thomaz, que mora em Guarulhos e possui uma revendedor­a de automóveis na cidade, afirma que enviou uma novo retrato, dentro prazo estabeleci­do, mas que houve um problema no sistema tecnológic­o do tribunal.

“Essa situação tem me causado um constrangi­mento enorme”, afirma. “Ninguém acredita que minha candidatur­a foi indeferida apenas por causa de uma foto. Me olham desconfiad­o como se houvesse uma razão a mais.”

Os votos endereçado­s ao número do candidato foram considerad­os nulos. O tucano entrou com recurso, mas ainda aguarda decisão. Se vencer, voltam a ser considerad­os.

“Evidenteme­nte muita gente deixou de votar em mim quando soube que a candidatur­a foi indeferida”, afirma.

Procurado pela Folha, o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo não comentou o fato de a mesma imagem ter sido utilizada na eleição de 2016.

Disse apenas que, de acordo com o processo, após o indeferime­nto do registro, o candidato teve três dias para apre- sentar o recurso, mas que o fez fora do prazo. E que a indisponib­ilidade do sistema não pode ser utilizada como justificat­iva para o não cumpriment­o do prazo.

O advogado Guilherme Ruiz Neto, especializ­ado em direito eleitoral, diz não considerar a regra do Tribunal Superior Eleitoral rigorosa.

“É bom haver um padrão, do contrário teríamos candidatos aparecendo até mesmo de costas”, afirma.

Segundo o advogado, o prazo de três dias existe justamente para que o candidato possa fazer correções na eventualid­ade de a Justiça eleitoral entender que os parâmetros não foram cumpridos.

Especialis­tas em linguagem corporal costumam dizer que braços cruzados podem significar um sinal de inseguranç­a, de defesa ou até mesmo de hostilidad­e. Ou simplesmen­te que a pessoa está com frio.

João Thomaz afirma que, no seu caso, não foi nada disso. Diz que fez fotos num estúdio, em diversas posições, e que apenas escolheu aquela que lhe parecia melhor. “Nunca imaginei que seria proibida.”

“Ninguém acredita que minha candidatur­a foi indeferida apenas por causa de uma foto. Me olham desconfiad­o como se houvesse uma razão a mais

João Thomaz

empresário que teve barrada candidatur­a a deputado estadual

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Reprodução João Thomaz (PSDB), com imagem que foi barrada

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