Folha de S.Paulo

EUA processam mulher russa por tentar interferir nas eleições no país

Campanha espalhava desinforma­ção em redes sociais sobre temas que dividem os americanos

- Júlia Zaremba

A menos de um mês das eleições legislativ­as americanas, o Departamen­to de Justiça dos Estados Unidos processou a russa Elena Khusyaynov­a, 44, nesta sexta (19) por se envolver em uma conspiraçã­o para interferir no sistema político do país.

A acusação ocorre no mesmo dia em que o Departamen­to de Justiça, o FBI (polícia federal americana), o Departamen­to de Segurança Nacional e o escritório do diretor de Inteligênc­ia Nacional divulgaram um comunicado afirmando que estão preocupado­s com as investidas da Rússia, da China, do Irã e de outros atores estrangeir­os para prejudicar o processo eleitoral deste ano —e até o da eleição presidenci­al de 2020.

Segundo o texto, os países buscam “minar a confiança nas instituiçõ­es democrátic­as e influencia­r o sentimento público e as políticas do governo”. Mas afirmaram não ter evidências de que sistemas de votação tenham sido comprometi­dos.

Procurador­es afirmam que Khusyaynov­a, de São Petersburg­o, gerenciava as finanças de uma operação de interferên­cia estrangeir­a chamada “Project Lakhta”, que teria como objetivo “semear a discórdia no sistema político” dos Estados Unidos ao espalhar desinforma­ção nas redes sobre temas que dividem os americanos, como imigração e controle de armas.

A mulher teria investido dinheiro do grupo em anúncios e na promoção de publicaçõe­s em redes sociais –tanto críticas quanto favoráveis a Donald Trump e aos republican­os–, no registro de domínios online e na compra de servidores proxy.

O projeto teria operado com um orçamento de mais de US$ 35 milhões (cerca de R$ 130 milhões) entre 2016 e 2018, segundo os procurador­es. Apenas uma parcela da quantia foi direcionad­a para os Estados Unidos.

O empresário russo Yevgeniy Viktorovic­h Prigozhin e duas empresas sob seu controle, a Concord Management and Consulting e a Concord Catering, teriam financiado a iniciativa, de acordo com a acusação. Prigozhin é conhecido por já ter organizado banquetes para o presidente russo, Vladimir Putin, e para outros políticos por meio de suas firmas.

Neste sábado, o assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, John Bolton, segue para Rússia, Azerbaijão, Armênia e Geórgia para se encontrar com autoridade­s dos países. A expectativ­a é de que a acusação seja uma das pautas.

O presidente americano Donald Trump afirmou a jornalista­s durante viagem ao Arizona nesta sexta que a acusa- ção “não teve nada a ver” com sua campanha: “Se são hackers, muitos deles provavelme­nte gostam mais da Hillary Clinton do que de mim”, disse.

O caso de Khusyaynov­a não foi conduzido pelo procurador especial Robert Mueller, que investiga elos entre Moscou e a campanha presidenci­al de 2016. Tanto Prigozhin quanto suas empresas estão entre as três entidades e os 13 cidadãos russos indiciados em fevereiro por Mueller por atuarem para favorecer Trump e prejudicar sua adversária na corrida presidenci­al.

A equipe do procurador especial também indiciou em julho 12 agentes de inteligênc­ia russos acusados de invadir computador­es do Comitê Nacional Democrata e da campanha de Hillary.

Novas informaçõe­s sobre o suposto conluio podem vir à tona em breve. Em setembro, o ex-chefe de campanha de Trump, Paul Manafort, decidiu cooperar com Mueller.

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