Filho de Bolsonaro ameaça Supremo, e decano vê golpismo
Eduardo diz que basta ‘um soldado e um cabo’ para fechar a corte; Celso de Mello diz que votação não legitima tudo
O vídeo em que um dos filhos de Jair Bolsonaro (PSL), o deputado reeleito Eduardo, diz que só seriam precisos “um soldado e um cabo” para fechar o STF (Supremo Tribunal Federal) caso uma vitória de seu pai fosse contestada provocou reações.
O decano do tribunal, Celso de Mello, disse a Mônica Bergamo que a declaração é “inconsequente e golpista”.
Para ele, votações expressivas não legitimam ataques aos poderes constituídos.
Eduardo (PSL) teve 1,84 milhão de votos para deputado federal por SP, recorde histórico. Sua fala ocorreu em um cursinho de Cascavel (PR), no dia 9 de julho.
Ele comentava a hipótese de uma investigação por irregularidade eleitoral menor desembocar em processo de cassação e fez a sugestão. Ele também especulou sobre a prisão de ministros.
Rosa Weber, à frente da Justiça Eleitoral, disse que juiz não deve se abalar.
Para o ex-presidente FHC, a frase “cheira a fascismo”.
Eduardo afirmou que a reação é “forçação de barra” para atingir a candidatura do pai. Ele alegou que o vídeo é antigo e não deveria ser “motivo de alarde”.
O presidenciável, por sua vez, havia dito antes que quem sugere fechamento do STF precisa “consultar um psiquiatra”. Ele, contudo, isentou o filho, sugerindo que a frase estava fora de contexto.
Uma declaração do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), sobre fechar o STF (Supremo Tribunal Federal) foi repudiada no meio jurídico e político neste domingo (21).
Em vídeo gravado em julho, disponível na internet, mas que veio à tona a uma semana do segundo turno, Eduardo responde a pergunta sobre uma hipotética possibilidade de ação do Exército em caso de o STF impedir que Bolsonaro assuma a Presidência.
“Aí já está caminhando para um estado de exceção. O STF vai ter que pagar para ver e aí vai ser ele contra nós. Se o STF quiser arguir qualquer coisa, sei lá, recebeu uma doação ilegal de R$ 100 do José da Silva, pô, impugna a candidatura dele. Não acho improvável, não, mas aí vai ter que pagar para ver. Será que vão ter essa força mesmo?”, responde o filho do candidato.
“Cara, se quiser fechar o STF, sabe o que você faz? Você não manda nem um jipe. Manda um soldado e um cabo. Não é querer desmerecer o soldado e o cabo, não”, diz.
“O que é o STF? Tira o poder da caneta de um ministro do STF. Se prender um ministro do STF, você acha que vai ter uma manifestação popular a favor do ministro do STF, mi- lhões na rua?”, afirma.
“‘Solta o Gilmar, solta o Gilmar’. Com todo respeito que tenho ao excelentíssimo ministro Gilmar Mendes, que deve gozar de imensa credibilidade junto aos senhores”, ironizou Eduardo Bolsonaro.
O vídeo foi gravado no dia 9 de julho, em um cursinho de Cascavel, no Paraná. Eduardo Bolsonaro dava uma palestra para matriculados que desejam ingressar na Polícia Federal —ele próprio é egresso da carreira.
Bolsonaro citou embate de mandados ocorrido no dia anterior (8 de julho), sobre a tentativa de soltura do expresidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“É igual a soltar o Lula. O Moro peitou um desembargador que está acima dele. Por quê? Porque o Moro está com moral para cacete. Você vai ter que ter um culhão filho da puta para reverter uma decisão dele”, disse o deputado.
O vídeo da palestra foi compartilhado no canal do cursinho e teve mais de 160 mil visualizações, até o fechamento desta edição.
Eduardo Bolsonaro foi reeleito deputado federal no último dia 7, com a maior votação da história, com mais de 1,8 milhão de votos.
Responderam ao posicionamento do deputado federal, a presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Rosa Weber, ministros do Supremo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o candidato a presidente Fernando Haddad (PT), o PSOL, entre outros atores políticos.
O presidenciável Jair Bolsonaro negou que exista a possibilidade de o STF ser fechado, disse desconhecer o vídeo e duvidar de que seu filho tenha feito a afirmação.
“Alguém tirou do contexto”, afirmou, no domingo, a jornalistas. “Se alguém falou em fechar o STF, precisa consultar um psiquiatra”, disse.
Diante da repercussão, Eduardo Bolsonaro afirmou, nas redes sociais, que o vídeo “não era motivo para alarde”.
“Até porque eu mesmo o publiquei em minhas redes sociais há quase quatro meses. Trata-se de mais uma forçação de barra para atingir Jair Bolsonaro, assim como é essa balela de WhatsApp fake news ser o fator que está conduzindo Jair Bolsonaro possivelmente para a Presidência”, continuou.
Na semana passada, a Folha revelou que empresas compraram pacotes de disparos em massa de mensagens contra o PT no WhatsApp e preparavam uma operação para esta semana.
A prática é ilegal, pois se trata de doação de campanha por empresas, vedada pela legislação eleitoral, e não declarada.
Eduardo Bolsonaro afirmou que “o momento é de acalmar os ânimos, que muitas das vezes é inflado propositalmente para se criar uma atmosfera de instabilidade”.
“Se alguém defender que o STF precisa ser fechado, de fato essa pessoa precisa de um psiquiatra”, escreveu, dizendo nunca ter feito tal proposição.
“Eu jamais falei isso. Estamos à beira de uma eleição que, após ser feita, sacramentará um governo legítimo, eleito pela maioria dos eleitores, que terá tudo para unir todos os brasileiros e seguir a Constituição, atitude que não é defendida pelo PT”, afirmou o filho do candidato.
Bolsonaro lidera a corrida, com 59% dos votos válidos, a 41% de Fernando Haddad (PT), segundo o último Datafolha. Débora Sögur Hous, Thais Bilenky, Ana Luiza Albuquerque, Talita Fernandes e Rubens Valente
“Se o STF quiser arguir qualquer coisa, sei lá, que [Jair Bolsonaro] recebeu uma doação ilegal de R$ 100 do José da Silva, pô, impugna a candidatura dele. Não acho improvável, não, mas aí vai ter que pagar para ver. Será que vão ter essa força mesmo? Cara, se quiser fechar o STF, sabe o que você faz? Você não manda nem um jipe. Manda um soldado e um cabo. Não é querer desmerecer o soldado e o cabo, não
Eduardo Bolsonaro em 9.jul.18
Se alguém defender que o STF precisa ser fechado, de fato essa pessoa precisa de um psiquiatra. Eu jamais falei isso. Estamos à beira de uma eleição que sacramentará um governo legítimo, que terá tudo para unir os brasileiros e seguir a Constituição
Eduardo Bolsonaro em 21.out.18