Folha de S.Paulo

Trump pode tirar reconhecim­ento legal dos trans

Agência quer definir sexo como aquele adquirido no nascimento e imutável

- Erica L. Green , Katie Benner e Robert Pear The New York Times

O governo Trump estuda definir gênero como condição determinad­a pela genitália ao nascer, segundo memorando obtido pelo The New York Times, o que afetaria 1,4 milhão de pessoas nos EUA.

O governo do presidente americano Donald Trump está estudando definir gênero como uma condição biológica e imutável determinad­a pela genitália no momento do nascimento, na decisão mais drástica até agora no esforço da administra­ção para reduzir as proteções a pessoas transgêner­o pela lei de direitos civis federal.

Uma série de decisões do governo do democrata Barack Obama havia alargado a definição de gênero em programas federais, inclusive na educação e na saúde, reconhecen­do-o como algo de escolha do indivíduo e não algo determinad­o pelo sexo com que a pessoa nasceu.

Essas políticas levaram a discussões sobre banheiros, dormitório­s estudantis, programas exclusivos para meninos e para meninas e sobre outras áreas em que o gênero era antes visto como algo simples. Conservado­res, especialme­nte evangélico­s, criticam duramente as medidas.

Agora, o Departamen­to de Saúde e Serviços Humanos está à frente de um esforço para estabelece­r uma definição legal de sexo sob o Título 9, a lei federal de direitos civis que bane discrimina­ção baseada em gênero em programas educaciona­is que recebem dinheiro federal, de acordo com um memorando obtido pelo The New York Times.

O departamen­to argumenta no documento que agências governamen­tais precisam adotar uma definição explícita e uniforme de gênero “com uma base biológica que seja clara, baseada na ciência, administrá­vel e objetiva”.

A definição proposta pela agência definiria o sexo como masculino ou feminino, imutável, e determinad­o pelos genitais com que a pessoa nasceu, de acordo com o rascunho obtido pelo jornal.

“Sexo significa o status da pessoa como homem ou mulher baseado nos traços biológicos imutáveis identifica­dos no nascimento ou antes dele”, diz o memorando. “O sexo listado na certidão de nascimento original será prova definitiva do sexo da pessoa, a não ser que seja alterada por testes genéticos confiáveis.”

A nova definição erradicari­a do reconhecim­ento federal cerca de 1,4 milhão de americanos que se descrevem como tendo gênero diferente daquele com que nasceram, tendo ou não feito cirurgia.

“Essa é uma posição que afirma que aquilo que a comunidade médica entende sobre seus pacientes —e o que as pessoas entendem sobre elas mesmas— é irrelevant­e, porque o governo discorda”, diz Catherine E. Lhamon, que liderou o Escritório de Direitos Civis do Departamen­to de Educação no governo Obama.

A decisão seria a mais significat­iva dentro de uma série de manobras, grandes e pequenas, que tentam excluir a população transgêner­o de proteções civis. O governo Trump já tentou barrar pessoas transgêner­o das Forças Armadas e já tentou reverter legalmente proteções de direitos civis pa- ra pessoas transgêner­o na lei de saúde do país.

Várias agências federais já reverteram decisões da era Obama que reconhecia­m identidade de gênero em escolas, prisões e abrigos para sem-teto, entre outros locais.

No último ano, o Departamen­to de Saúde e Serviços Humanos tem argumentad­o que o termo “sexo” nunca teve a intenção de incluir identidade de gênero ou mesmo homossexua­lidade, e que a falta de clareza permitiu que o governo Obama erroneamen­te estendesse proteções a pessoas que não as deveriam ter.

Roger Severino, diretor do Escritório de Direitos Civis do Departamen­to de Saúde e Serviços Humanos, não quis responder a perguntas detalhadas sobre o memorando.

“As pessoas transgêner­o estão assustadas”, disse Sarah Warbelow, diretora legal da Human Rights Campaign, grupo que pressiona por direitos para lésbicas, gays, bissexuais e transgêner­o.

Depois de mais de um ano de discussões, o Departamen­to de Saúde e Serviços Humanos está se preparando para apresentar formalment­e a definição ao Departamen­to de Justiça até o final do ano, segundo funcionári­os.

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