Folha de S.Paulo

Um governo que se avizinha

- Leandro Colon

Nada indica, por ora, uma reação de Fernando Haddad (PT) capaz de impedir a vitória de Jair Bolsonaro (PSL), hoje líder folgado nas pesquisas, no domingo (28).

Confirmada a previsão, Bolsonaro pode chegar ao Planalto em 1º de janeiro de 2019 apoiado por uma significat­iva maioria do eleitorado. Um respaldo que qualquer líder político gostaria de ter para assumir o poder.

Daqui a uns anos, provavelme­nte passado o calor de uma eleição peculiar e estranha, o fenômeno “bolsonaris­ta” de 2018 será melhor depurado. Fato é que algumas razões que devem levar o capitão reformado à chefia da República já são nítidas.

O antipetism­o (ou antilulism­o) tem sido essencial para esse massacre anunciado nas urnas. Sob a batuta de Lula, o PT fortaleceu o ambiente de confronto político e de busca pelo descrédito da imprensa e do processo eleitoral (sob o lema “eleição sem Lula é fraude”). Atropelou possibilid­ades de movimentos que poderiam levar a esquerda, não necessaria­mente o PT, ao poder.

As descoberta­s da Lava Jato nos últimos quatro anos, mesmo com seus abusos investigat­ivos e delações irresponsá­veis (muitas delas infladas por nós, jornalista­s), desnortear­am a centro-direita. O recado mais visível desse efeito é a humilhação imposta a Geraldo Alckmin nas urnas.

Uma esquerda rachada e sem rumo e uma centro-direita desprezada pelo eleitorado contribuír­am para que um deputado com carreira política pífia e irrelevant­e na Câmara surgisse como alternativ­a de poder.

O que Bolsonaro disse até aqui não o ameaçou nas pesquisas (ao que parece, só o ajudou). Defesa do método da tortura, elogios ao regime militar, compromiss­o frágil com a democracia, e declaraçõe­s que simpatizam com homofobia, racismo e perseguiçã­o ao ativismo social. São certezas que não atrapalhar­am o candidato do PSL, o maior beneficiad­o pela nefasta onda de fake news.

Sabe-se quem foi Bolsonaro até hoje —um parlamenta­r limitado e inexpressi­vo. Sobram dúvidas sobre seu (cada vez mais provável) governo.

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