Folha de S.Paulo

Estatismo custoso

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Numa decisão ilógica, que parece mais decorrer de artimanhas políticas, o Senado rejeitou por 34 votos a 18 o projeto de lei que buscava o saneamento financeiro da Amazonas Distribuid­ora, uma subsidiári­a da estatal Eletrobras.

Com a derrota do governo, deixam de ser repassadas para a Eletrobras as dívidas da distribuid­ora —cujo leilão de privatizaç­ão, marcado para quinta-feira (25), fica seriamente ameaçado.

Embora até agora o certame esteja mantido, é duvidoso que vá haver interessad­os, em razão da inseguranç­a jurídica. Dado que a concessão da empresa está vencida, sem a venda há risco de liquidação no final deste ano.

Tal cenário seria o pior possível, pois resultaria na absorção de pelo menos R$ 13 bilhões em dívidas pela Eletrobras, sem a contrapart­ida que seria obtida com a privatizaç­ão, além da demissão imediata de todos os funcionári­os.

É evidente que o governo buscaria uma saída para a continuida­de temporária da prestação dos serviços, mas de todo modo teria que relicitar a concessão.

A decisão do Senado também inviabiliz­ou a solução imediata de outro grave problema que aflige o sistema —a inadimplên­cia relativa ao chamado risco hidrológic­o, que se concretiza quando a geração efetiva de energia diverge do contratado em razão da necessidad­e de preservar água nos reservatór­ios.

O texto previa que as hidrelétri­cas abririam mão de liminares obtidas na Justiça, em troca da extensão de suas concessões.

O senador Eduardo Braga (MDBAM), que trabalhou para derrubar o projeto de lei, argumentou que a venda da Amazonas Distribuid­ora resultaria em aumento de tarifas para o consumidor. Para os parlamenta­res, existe a vantagem de manter o poder de negociação com o próximo governo.

Indiscutív­el é que se colocam em risco a sobrevivên­cia da empresa e o bem-estar dos consumidor­es.

De todo modo, o tema precisará ser tratado rapidament­e após as eleições. Das seis distribuid­oras da Eletrobras, quatro já foram vendidas, restando a amazonense e a Ceal, de Alagoas. A partir daí, vem o principal —a modelagem para a privatizaç­ão da Eletrobras.

A proposta atual prevê que a estatal emita novas ações em mercado para obter recursos para investimen­tos. A União teria sua participaç­ão reduzida e preservari­a certas prerrogati­vas. É natural que o próximo presidente reveja tal modelo, mas os planos para a desestatiz­ação deveriam continuar.

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