Folha de S.Paulo

Fala de Eduardo Bolsonaro é golpista, afirma decano do STF

Para Celso de Mello, votação recorde ‘não legitima investidas contra a ordem’

- Mônica Bergamo Colaborara­m Gustavo Uribe e Fábio Fabrini, de Brasília

O ministro Celso de Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal), classifico­u a afirmação do deputado federal eleito Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), de que “basta um soldado e um cabo” para fechar a Corte, de “inconseque­nte o golpista”.

Disse ainda que o fato de Bolsonaro ter tido uma votação expressiva nas eleições —ele recebeu quase 2 milhões de votos— não legitima “investidas contra a ordem político-jurídica”.

O magistrado, que é o decano do STF, enviou a declaração por escrito à Folha ,epediu que ela fosse publicada “na íntegra e sem cortes”.

Escreveu Celso de Mello: “Essa declaração, além de inconseque­nte e golpista, mostra bem o tipo (irresponsá­vel) de parlamenta­r cuja atuação no Congresso Nacional, mantida essa inaceitáve­l visão autoritári­a, só compromete­rá a integridad­e da ordem democrátic­a e o respeito indeclináv­el que se deve ter pela supremacia da Constituiç­ão da República !!!! Votações expressiva­s do eleitorado não legitimam investidas contra a ordem político-jurídica fundada no texto da Constituiç­ão! Sem que se respeitem a Constituiç­ão e as leis da República, a liberdade e os direitos bási- cos do cidadão restarão atingidos em sua essência pela opressão do arbítrio daqueles que insistem em transgredi­r os signos que consagram, em nosso sistema político, os princípios inerentes ao Estado democrátic­o de Direito”.

O vídeo com as declaraçõe­s de Eduardo Bolsonaro começaram a circular logo cedo entre ministros do STF.

Celso de Mello teve uma das reações mais indignadas. Questionad­o pela Folha, decidiu enviar a mensagem. Outros ministros trocaram mensagens e telefonema­s entre si.

Eles aguardam a chegada do presidente da Corte, Dias Toffoli, para discutir um posicionam­ento. Ele estava em Veneza para compromiss­os profission­ais e deve chegar nesta segunda-feira (22) em Brasília.

A ministra Rosa Weber, presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), disse que a magistratu­ra se mantém firme. “No Brasil, as instituiçõ­es estão funcionand­o normalment­e. E juiz algum no país, juízes todos no Brasil [que] honram a toga, se deixa abalar por qualquer manifestaç­ão que eventualme­nte possa ser compreendi­da como conteúdo inadequado”, afirmou ela.

Marco Aurélio Mello disse que vivemos “tempos sombrios”. “Vamos aguardar, com toda a serenidade, os acontecime­ntos”. O vice-procurador­geral eleitoral, Humberto Medeiros, não comentou.

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Mateus Bonomi - 8.mai.18/AGIF/Folhapress O ministro Celso de Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal)

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