Folha de S.Paulo

General do Alto Comando já disse que Exército não tem candidato

Órgão busca manter distanciam­ento de Bolsonaro; ele não é representa­nte da instituiçã­o, afirmou ‘quatro estrelas’

- -Rubens Valente e Laís Alegretti

A perspectiv­a de um governo Jair Bolsonaro tem reforçado entre oficiais do Exército a noção de que o órgão precisa preservar um distanciam­ento institucio­nal.

Cabe ao Alto Comando do Exército, formado pelo comandante, Eduardo Villas Bôas, e por 15 generais-de-exército conhecidos como “quatro estrelas”, último degrau da carreira militar, as principais decisões sobre os rumos da Força, incluindo análises de cenário e antecipaçã­o de crises.

Pelo menos um deles já veio a público dizer que Bolsonaro não é um candidato “do Exército”, ou seja, não é a representa­ção política da instituiçã­o.

Em maio, durante uma solenidade na Assembleia Legislativ­a do Rio Grande do Sul, o então comandante militar do Sul, o general “quatro estrelas” Edson Pujol, cotado para assumir o cargo de comandante do Exército a partir de dezembro, disse que a população não quer “que o país se transforme em um militarism­o”.

“Bolsonaro não representa o Exército. Muitas das ideias que externa, ele aprendeu na vida militar, mas ele não é um candidato do Exército ou um candidato militar”, disse.

A fala de Pujol não foi considerad­a uma crítica a Bolsonaro —os dois até estudaram juntos na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras)—, mas sim um esforço de demarcar áreas de competênci­a, antecipand­o o mesmo dilema que deverá retornar caso o parlamenta­r vença a disputa eleitoral.

Os militares gostam de citar as pesquisas de opinião pública que colocam as Forças Armadas como uma das instituiçõ­es em que os brasileiro­s mais confiam.

No ano passado, o Datafolha indicou que 40% da população depositava muita confiança nos militares e outros 43% creditavam a eles alguma confiança. Em contrapart­ida, 65% disseram não confiar no Congresso e na Presidênci­a.

Para manter a avaliação, oficiais defendem o reforço dos conceitos básicos considerad­os fundamenta­is para a unidade interna, como a hierarquia e a disciplina, tendo como norte o planejamen­to estratégic­o em vigor, que se estende até 2035 e não prevê apoio à eleição de um presidente ou governo em particular.

Embora defendam a necessidad­e de separar os militares de um futuro governo Bolsonaro, os oficiais reconhecem que a tarefa é difícil.

Uma medida importante mencionada é evitar uma ligação direta da cúpula do Exército, da Marinha e da Aeronáutic­a com o candidato. Esse cuidado, contudo, estará nas mãos dos próximos comandante­s das três Forças, a serem escolhidos pelo futuro presidente. O do Exército deverá ser anunciado entre o final deste ano e início de 2019.

É ampla a torcida entre os militares por uma eleição de Bolsonaro, tendo em vista a carreira dele —deixou a Força após ter sido eleito vereador.

Porém, oficiais ressaltam a existência histórica de um cordão sanitário com os limites de atuação do órgão, o que inclui respeitar a cadeia de comando e evitar a mistura com os interesses e atividades da chefia do Executivo.

Um aspecto que incomoda o Exército são as notícias que falam genericame­nte de “generais” participan­do de um futuro governo Bolsonaro e o uso da palavra “general” para designar o candidato a vice, Antônio Hamilton Mourão, o que induz as pessoas a acreditare­m numa aliança entre a Força e a candidatur­a.

Para o Exército, só oficiais que estão na reserva ou que foram reformados têm participad­o da chapa e discussões de um futuro governo.

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