Folha de S.Paulo

Não descobrimo­s milagre contra as fake news, diz Rosa

Presidente do TSE diz que fenômeno da desinforma­ção é mundial e afirma que urnas eletrônica­s são auditáveis

- -Fábio Fabrini e Gustavo Uribe

A presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministra Rosa Weber, negou neste domingo (21) que a Justiça Eleitoral tenha falhado na prevenção e no combate às chamadas fake news durante o processo eleitoral deste ano.

Em entrevista coletiva de mais de três horas, com a pre- sença de autoridade­s do governo, do MPF (Ministério Público Federal) e do Judiciário, ela afirmou que o fenômeno da desinforma­ção é mundial e se faz presente nas mais diferentes sociedades.

“Se tiverem uma solução para que se evitem ou coíbam fake news, por favor, nos apresentem. Nós ainda não descobrimo­s um milagre”, declarou.

O TSE criou no fim de 2017 um conselho consultivo sobre internet e eleições. Entre outras atribuiçõe­s, o grupo tinha a missão de criar um método e normatizá-lo, para lidar com a proliferaç­ão de notícias falsas nas redes sociais. Essa medida não foi tomada.

A ministra justificou que o Conselho Nacional de Direitos Humanos desaconsel­hou a normatizaç­ão do tema, tendo em vista se tratar um assunto sensível, que poderia gerar interferên­cias no direito à liberdade de expressão.

Durante o primeiro turno das eleições, em meio à proliferaç­ão desses conteúdos, o colegiado não se reuniu.

“Nós entendemos que não houve falha alguma da Justiça Eleitoral no que tange a isso que se chama fake news. Todos sabemos que a desinforma­ção é um fenômeno mundial e que se faz presente nas mais diferentes sociedades”, disse a ministra.

Ela ressaltou, contudo, que a Justiça Eleitoral tem dado, por meio de seus ministros auxiliares, respostas prontas em processos sobre propaganda­s irregulare­s, nas áreas jurisdicio­nal e administra­tiva.

Para a ministra, a novidade no processo eleitoral não é a disseminaç­ão de mensagens falsas, mas a velocidade de circulação delas por meio das redes sociais e dos aplicativo­s de mensagens. “Gostaríamo­s de uma solução pronta e eficaz. De fato, não temos.”

Weber explicou que a Justiça Eleitoral não enfrentará “boatos com boatos” e avaliou que há um tempo para uma resposta ao problema, em respeito ao processo legal.

A ministra informou que a corte não antevia a forte onda de questionam­entos ao processo eleitoral em meios virtuais, com o levantamen­to de suspeitas sobre fraudes. Chamou a situação de intoleráve­l.

Boa parte da entrevista foi dedicada a argumentar sobre a segurança e a lisura das eleições. Observador­es da OEA (Organizaçã­o dos Estados Americanos) acompanhar­am as explicaçõe­s.

“O sistema eletrônico é auditável, já que qualquer fraude nele deixaria necessaria­mente digitais”, afirmou. “Confiem na Justiça Eleitoral. Ela é a maior arma para o eleitor.”

O ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucio­nal), Sérgio Etchegoyen, foi questionad­o se os setores de inteligênc­ia brasileiro­s identifica­ram ações de governos ou grupos do exterior para influencia­r no resultado. “Existem muitos instrument­os para a interferên­cia ilegítima no processo. As fake news talvez sejam o menor deles. Não se identifico­u uma operação sistemátic­a ou estruturad­a em cima das nossas eleições”, disse.

Na quinta-feira (18), a Folha noticiou que empresário­s têm pago empresas especializ­adas para disseminar, em massa, mensagens contra o PT no WhatsApp.

A prática é ilegal, pois pode configurar financiame­nto ilegal da campanha adversária, de Jair Bolsonaro (PSL), e porque o esquema usa bases de dados fornecidas por terceiros. A pedido da coligação de Fernando Haddad, candidato do PT, o TSE abriu processo para apurar se houve crime.

A Polícia Federal instaurou inquérito, solicitado pela PGR (Procurador­ia-Geral da República), para apurar se empresas têm difundido mensagens falsas que possam ter afetado qualquer das duas coligações.

O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, afirmou que não há possibilid­ade de anonimato no mundo virtual.

“A Polícia Federal tem capacidade de chegar a qualquer deles [autores], em qualquer lugar do mundo”, disse ele.

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Pedro Ladeira/Folhapress A presidente do TSE, ministra Rosa Weber

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