Folha de S.Paulo

Reação a camiseta de candidato vai de sorriso a cusparada em São Paulo

Reportagem foi às ruas com roupas com mensagens de apoio e de repúdio a Jair Bolsonaro (PSL)

- Artur Rodrigues e Denise Perotti Fotos Danilo Verpa/Folhapress

Em meio a relatos de violência por motivos políticos que se espalham pelo país, a Folha foi às ruas testar reações a camisetas com estampa de apoio e repúdio ao candidato Jair Bolsonaro (PSL).

Na sexta-feira (19), durante quatro horas, dois repórteres circularam pelo centro financeiro da cidade de São Paulo vestindo roupas com estampa do rosto do candidato e outra com o dizer “Ele Não”, da oposição ao capitão reformado.

No país, um homem foi morto a facadas por um apoiador de Bolsonaro e outros foram vítimas de espancamen­tos. Na capital paulista, durante a experiênci­a da reportagem, as reações variaram de uma simples risada de aprovação a uma cusparada na repórter.

A Folha percorreu a avenida Paulista entre o Masp e a TV Gazeta entre 12h e 16h, enquanto a equipe de imagem da Folha registrava reações.

As demonstraç­ões mais veementes, tanto de apoio como de repulsa, acontecera­m enquanto a repórter estava com a camiseta amarela com o rosto de Bolsonaro. Um casal, o homem negro e a mulher branca, foi o primeiro a se manifestar. Ele fez um sinal de positivo e disse: “Esse sim”.

Logo em seguida, três adolescent­es passaram e timidament­e, quase resmungand­o, soltaram um “ele não”.

Já uma mulher, apressada, mandou a repórter estudar história: “Nossa senhora, Bolsonaro? Volta pra escola, vai estudar história. Pelo amor de Deus”.

Enquanto a repórter estava parada em frente ao prédio da TV Gazeta, um homem de por volta de 30 anos parou por um segundo e deu uma sonora cusparada no pé dela.

Já na altura do Masp, cenário frequente de atos favoráveis ao militar, a camiseta amarela animou bolsonaris­tas. Todas as manifestaç­ões efusivas foram de apoio. Alguns inclusive pararam para perguntar se haveria manifestaç­ão, pois gostariam de participar.

Um dos apoiadores do capitão reformado abordou a repórter para dizer que a eleição dele é coisa divina. “Foi Deus, todas as religiões se juntaram para eleger Bolsonaro. Não vai faltar emprego, você vai poder escolher se quer esse, quer aquele... Nós somos direita, essa esquerda aí, ó [e fez gesto de que não bate bem]”.

Já uma mulher, perto dos 60 anos, ficou com inveja: “Eu também queria ter coragem de vestir uma camiseta do Bol- sonaro e ir pra Paulista”.

Com a camiseta do “Ele Não” as reações positivas foram mais tímidas. Um rapaz chegou a parar para fotografar a repórter; ele usava boné também com o dizer “Ele Não”.

Já uma mulher acompanhad­a da amiga, na passagem, disse que a camiseta era muito bonita, que era preciso vesti-la, mas, como a apoiadora do candidato adversário, disse que “é preciso ter coragem”.

Um rapaz fez sinal de positivo e falou “legal”, e duas amigas deram os parabéns por estar usando a camiseta. E só.

Em nenhum momento houve insinuação sexista nos comentário­s. Todas as aproximaçõ­es foram para defender ou condenar o candidato.

Os passantes reagiram de maneiras diferentes em relação ao vestuário do repórter homem e da jornalista mulher. No caso do repórter, as interações foram mais discretas.

Durante a maioria do tempo, as camisetas do “Ele Não” e a que trazia a estampa de Bolsonaro não despertava­m mais que olhares de reprovação.

A camiseta do capitão pareceu assustar algumas mulhe- res, que se distanciav­am para o outro lado da calçada. Já homens faziam sinais de positivo, alguns imitando arma com a mão, marca de Bolsonaro.

A roupa que trazia bordão contrário ao capitão foi elogiada por mulheres, que acenavam e repetiam “ele não”. Já um homem, ao se afastar do repórter, disse: “Usa isso e depois não sabe por que apanha”.

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Mulher reage à repórter com camiseta em apoio a Jair Bolsonaro (PSL), à esq.; acima, homem observa jornalista com camiseta ‘Ele Não’, de repúdio ao candidato
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